Enquanto não se tornam em livro, poemas ficam no escuro da gaveta. Às vezes um ou outro sai para uma leitura pelo autor ou por algum amigo que o visita, no que até se aproveita para uma correçãozinha aqui e ali, um aperfeiçoamento e tal. Desde que não saíram à luz ainda, toda emenda cabe. Mas agora aqui exponho, desde a gaveta onde os guardo, estes meus escritos poemas.

domingo, 4 de março de 2012

POEMAS ENGAVETADOS



ALGRIA DE CARNAVAL

Foi num marcante carnaval
que Inocêncio encontrou seu grande amor.
E naqueles poucos dias de folia,
o viveu intensamente.
E foram tantos beijos ardentes;
tantos abraços afetuosos;
demorados, alongados.
E trocaram confidências;
e trocaram juras de amor,
além do que brincaram exultantes;
as mãos sempre dadas  pelas ruas,
por entre a turba  foliã alvoraçada,
na vibração colorida
das vestes, das fantasias,
do barulho festivo;
os corpos muitas vezes
unidos no caminhar
a quase a se aglutinarem.

Inocêncio irremediavelmente
estava apaixonado,
e julgava enfim ter
a felicidade encontrado.

Por isso grande foi o abalo
gerado pela sua desilusão
na quarta-feira de cinzas,
quando naquela praça,
a mais bela da cidade,
Vivência ( e este era o seu nome )
não lhe apareceu,
conforme houveram marcado;
como havia ela prometido.
Ali traçariam seus planos
de gozarem mutuamente
daquele amor que se fazia.
Mas não mais a viu.
E foi assim que se mostrou
crua e em desencanto
a concreta realidade.
O que já se lhe afigurava
de imponente amor,
profundo e eterno,
era para ela apenas
uma curtição passageira de carnaval.
Foi tolice acreditar
que ela  sentia como ele;
que na mesma freqüência
do seu pensamento,
em correspondência,
ela pensava também.
Tolice neste sentimento
se deixar levar
de alma e coração.

E a sua falta já agudamente sentia,
numa pungência que, crescendo,
ia mais e mais dentro em si
lhe tomando inteiro a vida.
E tanto que sonhara
o grande amor viver,
veio ser poucos dias
de carnaval e fim.
E tão profundo e pleno
se houvera feito em si,
que danos e dramas
não imaginados
iria ainda Inocêncio
viver desde então,
tão forte o abalo
na sua estrutura emocional.
Um envolvimento carnal
não houvera sido apenas,
mas também espiritual.
Mas tudo se fez passado.
Passou a muito custo,
após recorrentes recaídas;
patologias comportamentais;
decadências e sarjetas;
um humano em farrapos;
álcool, cigarros, drogas...

Tudo passou enfim.
O tempo dilui, esparsa, distancia...
Porém Inocêncio
não mais iria
recompor-se integralmente;
e não mais  teria
alegria de carnaval.




FACES

E naqueles novos tempos,
de tão incríveis maravilhas tecnológicas,
havia assim um lugar mágico.
Era um mundo virtualmente real
onde ordenados conviviam
gentes as mais variadas,
diferentes, e até opostas:
ateus, afroreligiosos, evangélicos,
agnósticos, católicos, espíritas,
budistas, judeus, muçulmanos,
hare krishnas, ecumênicos,
filósofos, pensadores, antropólogos;
também políticos das mais variadas estirpes:
de direita, de centro, de esquerda,
de centro esquerda, de centro direita,
de direita extrema,
de extrema esquerda,
de centro bem ao centro,
ruralistas, anarquistas , suprapartidários,
ecológicos, indiferentes e irônicos.
E conviviam ali brasileiros e estrangeiros;
estudantes e trabalhadores;
profissionais liberais e empresários;
civis, militares e aposentados.   
De leigos a doutores ali conviviam;
e gentes com as mentes ainda em formação.
E ali também conviviam em interligação
poetas, músicos, escritores, pintores,
cantores, atores, artistas em geral e atletas.
E havia uns sérios, uns gaiatos;
uns maliciosos sexuais; uns deboxados;
uns fanáticos, uns exibicionistas;
uns coerentes, uns contraditórios;
uns normais, uns bipolares,
e assim de outras patologias mais...
Mas entretanto todos procuravam se portar
no mais relativo equilíbrio.
E conviviam ali de ricos a pobres;
homoafetivos e não homoafetivos...
Então ali conviviam essas gentes várias
e de variadas opiniões e pontos de vistas.
E neste mundo singular se sentiam à vontade
para emitir suas opiniões e pontos de vista.
Não tanto intencionados em convencer
em  fazer o outro mudar de opinião, de ponto de vista
os outros que se faziam então interlocutores
- pois cada qual se mostrava bem fundamentado
em sua própria crença, religião ou ideologia -
mas pelo querer de argumentar, a demonstrar
seu bom suporte de embasamento.
E o que era posto podia ser curtido;
ser compartilhado ; ser comentado
assentidamente ou discordantemente...
E assim é que se davam uns aos outros a conhecer
as suas verdadeiras faces.




O brinquedo de Lúcio Ventura

Mais um Natal passou;
mais um Ano Novo começou...
Até o Dia dos Santos Reis já passou,
e aqueles enfeites natalinos já foram desmanchados...
O carnaval já se aproxima esfuziante em sua expressão...
E Lúcio Ventura continua a brincar com seu brinquedo:
seu presente sempre mais irradiante
que ganhou de seu Papai  Noel:
o Papai Noel do Céu...

Já faz algum tempo...
Lúcio Ventura já nem mais acreditava
em Papai Noel na verdade.
Já iam longe os seus Natais de menino,
em que se contentava logo manhã cedo
com o presentinho deixado sobre seus sapatinhos à janela
deixado pelo Papai Noel durante seu sono infantil;
um carrinho, um joguinho; um mimo desses...
Já ia longe aquela época natalina
em que escreveu aquele bilhetinho cheio de esperança,
alegando vir sendo bonzinho,
esquecido das suas traquinagens de criança,
e que tinha passado de ano,
e que merecia ganhar
o presentão que então lhe pedia,
que era um violão. Aquele brinquedo de fazer música...
Estava tão encantado e desejoso de tal brinquedo
que antes mesmo de resolver escrever a tal carta
já até tentara construir um com as próprias mãos,
com um pedaço de pau e fiozinhos de náilon...
Papai Noel lhe negou o pedido,
e logo depois Lúcio o desmascarou em sua farsa...

Mas de lá pra cá já alguns tantos violões
o Lúcio já possuíra; tantos outros dedilhara,
já iniciado no segredo de desprender deles suas notas.

E Lúcio se houvera tornado um jovem
que sempre na época natalina,
em que se insinua o Papai Noel
lembrava no coração
daquele Natal do seu bilhetinho,
e então pensava que bem que poderia mesmo haver
um Papai Noel de verdade
e que lhe presenteasse com um violão
que tivesse a magia do Natal,
e dele então se evolasse,
a irradiar-se pelo mundo positivamente
a envolver todo o planeta
tomando-o numa atmosfera de ternura
como ondas de energia transformadora
a reformar a humanidade
numa vontade amável de bondade
gerando compreensão e paz entre as pessoas
porque depois que passa o Natal
as pessoas se tornam aos seus recrudescidos corações
em suas desuniões , seus conflitos,
suas guerras, suas hostilidades
o espírito do Natal não se preservava
não se conserva o clima de fraternidade entre as pessoas...

E foi um evento inegavelmente natalino
que Lúcio Ventura pensando no seu violão mágico,
de poder extraordinário de despertar os homens para o bem
viveu um profundo e místico sonho,
repleto das mais incríveis nuances e manifestações...
e quando enfim despertou e acorreu ao seu violão
e sentiu nele um encantamento sobrenatural
diferente do que houvera sido até então
seu violão estava o mais lindo
entoando as notas primorosamente
Inspirando mensagens as mais sublimes
em canções as mais maravilhosas
irradiantes pelo ar
e através das músicas dele desprendidas
o mundo parecia encher-se mais de amor
parecia infundir nas pessoas o bem
o ser o melhor de si
e às pessoas fascinadas; surpreendidas e indagadoras
de como agora conseguia tocar com tal resplandecência
Lúcio Ventura não hesitava em fazer crer
que aquele era seu violão presenteado pelo seu Papai Noel
O Papai Noel do Céu;
era enfim o seu violão sonhado:com a magia do Natal.
e as pessoas nisso pensavam, refletiam, meditavam seriamente
propensas então a acreditarem no tal Papai Noel.

E as canções de Lúcio Ventura tinha agora tal magia natalina
que nelas até se revelava transparecido
a feliz presença do menino então nascido
manifestado em seu amor.





COM CARINHO ; COM AMOR

Às vezes somos uma decepção para pessoas
por não corresponder às suas expectativas...
Amigos, familiares e outros que nos estimam
são os que mais se sentem por tais decepções.
E principalmente tais familiares:pais e irmãos.

Esperaram do seu ente querido um grande médico,
Quem sabe o queriam um sábio professor,
mas tornou-se um vagabundo; um badameco.
Esperaram dele um padre; um pastor,
mas tornou-se um macumbeiro daqueles.
Esperaram dele um artista renomado,
mas não é mais do que um lunático; um alienado.
Ou mesmo poderia vir a ser glorioso atleta,
mas não passa de um Ajudante de Pedreiro.
Quem sabe viesse a tornar-se um filósofo importante,
mas não passa mesmo é de um burro; um ignorante.
Quem sabe viesse a se  tornar um bem sucedido; rico,
mas tornou-se um fracassado; miserável; favelado.
Talvez esperaram dele ser exemplar Pai de Família,
mas tornou-se um homossexual, devasso e promíscuo.
Ou que ele se casasse com a mais linda princesa
e não com a bruxa velha e feia; a megera...

Às vezes somos uma decepção até para nós mesmos;
por não nos termos tornado o que sonhamos e tentamos;
e só nos resta nos conformar com a nossa sorte,
com o rumo que a vida tomou em nosso destino.
E não há mesmo o que fazer senão se conformar;
e ficar sempre de bem com a vida ainda e sempre,
como o bom jogador que sabe perder; pois bem competiu...
E também, conseguir ou não algum intento ou sonho
não determina felicidade ou infelicidade na vida em si.

Mas ainda que se fique bem ou mal com a vida,
somos ainda os mesmos seres humanos;
e como tais pensamos, falamos, agimos;
e como tais queremos ser respeitados;
ser tratados com a devida consideração...
Até mesmo com carinho; com amor...



Noite de Natal


Piscam-piscam luminosas e multicoloridas luzinhas
nas árvores natalinas carregadas de peculiares enfeites;
enquanto harpas entoam sublimes canções simbólicas;
e as crianças felizes brincam seus novos brinquedos.

Piscam-piscam nas paredes pintadas em vivas cores
formando estrelas, sinos, botinhas de Papai-Noel...
Uma atmosfera de afeição envolve as gentes no se dar;
nas famílias reunidas em corações abertos e ternos.

Sobre a mesa, de ossos pro ar a figura da ave cheirosa
e seus acompanhantes; queijos, panetones, guloseimas;
além do bom velho e deleitoso vinho, entre espumantes,
compõem o saboroso banquete desta noite de celebração.

E o nascente menino presepial pregaria a todos amor...
porém persistem as guerras, as maldades, as desavenças;
e mesmo agora tantos são os famintos ao desabrigo;
e se pondera a validade, o sentido desta festividade...

E se importa ainda que reforça a mensagem redentora
na consciência humana a pouco a pouco aprimorar,
parece que serão necessários milhões mais de Natais,
pelo que de bruto primitivo e selvagem permanece...

Mas ganha esta noite um caráter incrivelmente especial
em vidas libertadas de agruras as mais devastadoras
porque deveras é real a presença interveniente do amor...
E assim se faz um momento dos mais intensos em sua luz.







O AMOR HUMANO

O Sol desde sempre dá vida e ilumina,
perfeito na medida do seu calor;
na plena definição,
que faculta a visão,
desde das mais novas manhãs
ao amor humano que subsiste.

Há chuvas torrenciais e intermitentes,
após um vento frio, paralisante;
e que antecipa uma tarde causticante;
tão entediante quanto aprisionadora,
e que se faz o suficiente torturante,
de mormaço quente, sufocante,
qual num forno envolvente,
fazendo a secura sedenta,
na antecedência  duma noite abissal,
de luas e estrelas a se rebrilharem
no obscuro de seus brilhos;
no oculto dos seus reversos;
em madrugadas tenebrosas;
apavorantes; fantasmagóricas...

Há doenças, sofrimento, ódio,
gerando perdições, esquecimento,
descrença em tudo, em si;
em espinhosas circunstâncias;
encerramentos em cárceres mentais,
em adversas condições;
tanto a morte até...

Há quem seja passivo
de fenômenos transcendentais
para além dos normais...

Há quem cruze terras e mares,
campos , cidades,
desertos , situações, e mais...

Há quem reverta desse mal vivente
para a felicidade, perseguida
como a própria,
por um bem eterno:
o amor humano,
que lhe veio
como suave brisa
a refrescá-lo confortador;
a situá-lo no vislumbre
do bom da vida;
a acender-lhe unânime a noite;
a devolver-lhe à vida integral,
a fazê-lo aniquilar os vícios,
a liberar as virtudes,
sob esse sol de calor vital;
esse sol que reina na Terra,
da relutante humanidade,
objeto do amor
do amor humano.




O CENTRO DO UNIVERSO

Tão natural é amar a vida
um coração assim a ela afeito;
e seguir cultivando flores num jardim,
seduzido por sua tão diversa formosura;
que fazem de si repleto em contentamento,
e transluzindo-o o mais amplamente.
Ciente de que nela igualmente há
feridas, dores e atrozes sofrimentos;
que pode passar-se por ilha de agonia
rodeada de morte totalmente.
A morte rondando em terror,
quanto mais o desejo de vida é pleno,
                                                  absoluto.
Que se pode lhe envolver uma loucura,
sem remédio, a torrar o juízo;
a banir flagelados do paraíso
tantos que se fazem deste modo deserdados.

Ainda assim corações há
que persistem na fé no amor,
e vão até tão longínquas distâncias
até terem sua luz em lampejante clarão,
de rara e planetária compreensão
em excepcional manifestação;
e faz o espírito fatigado,
e que tanto intentou o caminho,
retirar-se para uma certa liberdade,
a redimensionar-se em intentadas belezas,
nos aspectos das coisas que são
neste manancial de ideias e sentimentos.

Assim é que crio, versejo, proseio
e canto do alcançado pensamento,
buscando refletir sua beleza.

E nesta madrugada memorizo a jornada,
enquanto cai forte a chuva no telhado,
a mulher dorme na cama,
as crianças em seus quartos,
o cachorro no canil,
vou sorvendo meditativo
o vinho na taça cristalina
e pensando na verdade,
que ficou disso tudo...

A vida é o centro do universo.




VENTURA E PAZ

Ela era a flor mais linda e querida
já nascida no jardim da sua vida;
e fez todo seu coração num ardor,
repleto do mais imaculado amor,

ao qual se fez integrado totalmente,
vivendo-o tão mais intensamente.
Seu amor em plenitude se realizava,
tanto mais lhe abraçava e beijava.

Tudo pra sua existência era ela ter;
o mais magnífico prazer de viver.
Sentia em si o que é a cara paixão
e felicidade nesta comprovação.

Seguir sempre mais assim ele desejava;
mas não era o que ela pra si planejava;
e se foi com o pranto dele derramado
em seu tão amado colo, aflito, chorado.

E sobreveio a ele então a ferina ventania,
infernizando-lhe suas noites e seus dias.
Desespero e loucura assim lhe tomaram,
e em profunda fossa lhe arremessaram.

Ao mundo, em fuga, ele então se lançou.
A sua paz perdida e a ventura procurou.
E no verdadeiro amor veio a encontrar,
que fez ademais todo aquele mal cessar.










CONTATO NO FUNDO D'UM SONHO


Naves espaciais
e seus tripulantes ultrainteligentes
de planetas distancíssimos e ultra-avançados
compõem o humano imaginário
e verossímeis se evidenciam
impressionantes
na arte literária, entre outras;
na arte cinematográfica
da fictícia ciência...

E no meu pensamento,
de fértil imaginação,
logo as naves campeiam
o espaço sideral
do universo sem chão,
sem teto, sem parede
e de buracos negros;
a extensão ilimitada
desta amplidão infindável;

e sondam planetas;
e aproximam-se matreiros;
e tocam os solos suaves,
os engenhos futuristas,
ou de remotíssimo passado,
de luzes radiantes,
e contatam nos vários graus
os espantados nativos,
dos quais até se sugere
mais estreitas ligações
em remotíssimos passados;
e deixam sinais
em campos e vales...

E quando no sonho
que eu fundo sonhar
se me tornar este mundo
medonho, angustiante, inóspito,
e eu queira dele fugir apavorado,
quem sabe os discos surgirão
do além da minha imaginação
e se projetarão
ante à minha visão,
que os tomarão
como não
simples miragens então
e se farão
resgatadores do meu ser
perdido no espaço
a me reconduzirem
calmo e seguro e sapiente
ao meu planeta em paz.




Quando o amor lhe sorrir

Quando o amor lhe sorrir,
no seu metafísico aludir,
lhe fará conectada, a mente,
na do presente eternamente.

A alegria fará se fincar em ti o seu sorriso;
e a Terra lhe rebrilhará desvelada em paraíso.
Felicidade se fará em ti intensa e intimamente;
e você vai imediato manifestar pra toda gente.

E se fará bem fixado e firme na beleza pura;
tornada numa tão rara e apaixonada criatura,
quando o amor de verdade sorrir pra você.

Que o amor assim, do tormento é a cara providência;
restaura o senso a melhor,  na renovada consciência;
no olho a mais que comprova e se compraz no que vê.





O SONHO E O BATENTE

Na minha realidade,
sobrelevante de fato
é a luta pela sobrevivência:
tirar o pão do batente,
pelo alimento, pela vida,
nesta selva social;
vulnerável aos predadores;
temeroso por mim,
                pelos meus...

Outrossim contudo é
preponderante o sonho.
O meu sonho de direito;
tão cordial e naturalmente
entranhado; flamejante.
Um  ideal a concretizar.

E irrefreavelmente
tal direção, mormente
me tomam os passos;
nele seguindo,
direto em frente.
E ainda que se traceje,
em forçosos momentos,
recuos, retrocessos,
zígue-zágues,
enviezadas diagonais,
terminam por se fazerem
não menos que estratégias,
redirecionamentos
de bem melhor prosseguir
no encalço, na diretriz
do consolidado compromisso;
decidido no desejo;
e bem constituído
no como é;
no como deve ser:
o sonho a abarcar a vida
abrangentemente, no tudo
em que ela se faz;
e se ressalta nele então,
para além do bem que ela pode trazer,
querelas e queixumes,
as negativas consequencias
de humanos erros,
ou pecados que se queiram interpretar;
ou que sejam ainda sucedidas
de incorrigíveis defeitos,
e que marcam corpo e alma;
os prejuízos das faltas de juízo;
a vida tornada ao avesso;
o que se tem aprendido,
e que se haja de bom tamanho
para se tirar uma lição,
e que assim se faça em formatação...
e abarca também o que ficou para trás,
mas se sustém na memória,
                         no sentimento...

o sonho é encorpado no bel-prazer
de vê-lo feito arquitetado;
é  a cachaça que então se faz...
Aqui exempli gratia
é o querer da poesia,
cumprindo irrenunciados desafios
de concretizar abstrações,
em versos a elas fiéis,
nesta decorrente disposição
de ao máximo evidenciá-las...

Agora mesmo estou
calibrado de luz.
Sou matéria perecível,
consciente da existência
que se acaba em extinção;
um finito no infinito universo.
Sou a mente científica,
curiosa a pesquisar,
a experimentar,
neste laboratório planetário;
universal;
onde me faço a própria cobaia
na pesquisa do conhecimento
da vida , do mundo;
e vou anotando as conclusões,
as considerações, as ilações...
Vou vivendo para contar.

Na minha realidade
prevalece a luta pela sobrevivência,
mas o sonho é também preponderante;
o que faz conflitante,
no mais das vezes em mim.
O sonho me tira algo do pão;
o batente me quer aniquilar o sonho,
que é aqui entranhado, flamejante, subsistente...
E sem o pão nosso de cada dia, como seria?

São conflitos entre obrigações a se cumprirem;
dilemas que chegam a agônicos, angustiantes,
quererem comprometer no corpo e na mente
o sereno bem-estar;
que me querem remeter à aflição do vício;
à enganosa trégua em ambientes de perdição,
nestes contundentes, dramáticos momentos.

Sonho e batente se conflituam
transtornadamente aqui.
Mas ainda que comprimidos
não conciliem, não solucionem,
a alegria passada
pelo sorriso do amor
revigora-me nas jornadas
do batente e do sonho.







O TARIMBADO PROFESSOR FELISBERTO

I

Em Felisberto era enorme a satisfação,
quando da sua formatura em professor.
Profissão da sua mais cara admiração;
e que ansiava exercer com grande amor.

Sonhava já em seu nobre ofício;
educando para o crescimento;
o que já não lhe seria difícil,
pelo já alcançado conhecimento.

Plenamente devotado se faria;
com toda sua boa vontade;
e o melhor método buscaria,
para que aprendessem de verdade.

Transmitiria assim o seu saber
de um modo bem embasado;
levando seus alunos a compreender;
tornando fácil o complicado.

Conquistaria gratos corações;
sentia em si o dom de ensinar.
Teria prazer em suas obrigações
de ler, escrever, corrigir, estudar...

Levaria seus pupilos à apreensão,
com seu dom sempre mais apurado,
dos variados temas da sua atenção,
pelos modos que bem explicitados;

com boas mensagens os motivaria
para a prática constante de estudar;
com precisos toques os inspiraria
primorosos ideais a bem realizar.

Bem mais coração seu ser seria;
mesmo que menos do que cultura.
Ressaltaria a beleza da sabedoria,
que faz alguém distinta criatura.

Não seria apenas aquele que ensina,
mas teria mais objetivo em seu agir,
como se lhes abrisse o mapa da mina,
indicando-os a num objetivo prosseguir.


II


Porém já em pleno campo de atuação,
via todo esse idealismo se desmoronar;
abriu-se-lhe os olhos à crua desilusão
de todo o bem que se fazia a tencionar.

O desinteresse  da maioria o desanimava;
que era até desprezado, triste percebia;
entre gritos agudos e enervantes que escutava
na algazarra em que a sala quase sempre se fazia.

Tantas bolinhas de papel à sua cabeça foram dar;
desrespeitavam-lhe com chacotas e molestações;
e um ditado repetidamente lhe vivia a martelar:
que está é cheio o inferno de boas intenções.

Chiclete puseram na sua cadeira,
e grudou na sua calça lá no fundo;
posta acima da porta uma lixeira,
recebeu sobre a cabeça o lixo imundo.

Dava dó do professor, pobre coitado,
que mais e mais a decepção amargava.
Seus planos de aula, com ideais elaborados,
na prática,  quase nunca os concretizava.

Já andava carrancudo em seu semblante,
com toda a azoação dos alunos perturbados,
chateando-lhe fuzilantes a todo instante;
fazendo-lhe tão infeliz e contrariado. 

Vinha sempre mais perdendo a paciência;
e a indignação  mais e mais  crescente,
com alunos que além das citadas indecências,
já até lhe agrediam fisicamente.

E foi assim que saiu do sério,
explodindo a toda essa situação,
revoltado, desabafando impropérios,
não se contendo na sua danação.

Não se reconhecia ali um professor,
mas um bruto, perdida a estribeira;
perdida a compostura em seu furor,
sua insatisfação bradava desta maneira.

E Felisberto não se podia refrear;
o ânimo exaltado;  não sabia se calar,
destilando a contrariedade até mandar
tomarem todos os alunos naquele lugar.

E saiu culpando desde os pais,
pela falta da doméstica educação,
ao diretor por ser, muito mais,
um incompetente em sua atuação;

também o secretário, o ministro, o presidente...
Que rígidas normas disciplinares se devia decretar;
dar  ao professor condições mais decentes;
que a  verba da educação  deveria aumentar...

E mesmo aos colegas não poupou na sua falação:
os acomodados e os do sindicato vendido;
o os políticos que chafurdam na corrupção,
e com a Educação se fazem descomprometidos.

E assim é que sua ação foi à justiça denunciada;
que infringiu a lei de maneira tão indecente.
E a sua licença de ensino poderia ser cassada.
Os representantes da lei já se faziam presentes.

Seu advogado o instruiu à psiquiatria recorrer.
Era um recurso de defesa que lhe cabia então.
‘É normal d’um estresse assim acontecer
a quem exerce essa árdua profissão’.

E foi assim que da cassação da carteira se livrou.
Mas não pôde se livrar da obrigação de se tratar.
Mas o fato de conservar sua licença o reanimou
E novos métodos de ensino já intencionava aplicar

Mas pensando na rudeza que se fez a demonstrar,
em si ponderava se ensinar ainda lhe era de direito.
Talvez fosse melhor uma outra atividade buscar.
Qualquer uma em que lhe tivessem respeito.

E decidiu por fim que não iria mais buscar
o fatigante e ingrato trabalho de professor.
Nem que tivesse de paus e pedras carregar,
mas não quereria mais pra si todo aquele horror.

E foi assim que mal com a profissão ficou.
Não imaginava ser tão espinhosa a lida.
E tanto idealizou na profissão que abraçou;
mas que se tornou um contratempo de vida.

Mas uma outra atividade não achava;
e já tantas  contas atrasadas pra pagar.
E foi se virando em biscates que algum ganhava;
Ajudante de pedreiro ou o que viesse a achar.

E essa era a vida que Felisberto levava:
todo dia saía pra ganhar sua praça;
e às vezes nenhum biscate arrumava;
e então parava no sindicato da cachaça...

A princípio só parava ali só pra conversar;
trocar idéias com os excluídos, oprimidos...
Sentia-se um tanto como eles, sem lugar...
Mas ali foi tomando gosto pelos tragos bebidos.

E foi assim que sua vida se fez em mais dureza;
experimentando uns momentos de outras agonias,
que lhe remeteram a alma a bem fundas tristezas.
Felisberto agora só bebia... E a dispensa vazia

se afundava o Felisberto em magna desgraça;
e a depressão facilmente se instalou em sua vida.
E não passava um dia sem se encher de cachaça;
e pra comer, Felisberto já esmolava comida.

E muitos , com pena de Felisberto, ajudavam;
mas outros não lhe perdoavam a indecência;
e vê-lo penando na pindaíba apreciavam.
E já cortadas água e luz em sua residência...

Coitado do  Felisberto, outrora um idealista ,
vivia agora numa decadência sem par,
em situação vexatória e humilhante;
um alcoólatra mendigando ao Deus dará.

E assim Felisberto passava dura provação;
no revés cáustico que sofria sem clemência.
Um perambulante em lastimável condição.
E ainda vulnerável a funestas conseqüências.

Convidavam-no para ir à Igreja os crentes,
garantiam que lá sua vida ia mudar;
mas Felisberto pensava cientificamente,
e seu negócio mesmo era indagar...

Mas tava era encalacrado em dívidas tantas e demais;
devendo em bodegas, mercearias e mercadinhos;
agiotas ,cestas básicas, ciganos e tanta gente mais.
Perdeu caros bens empenhados por tão pouquinho.

E Felisberto, relegado, se renegou;
no álcool e no fumo,vivia a vadiar.
Até drogas ilícitas ao uso se liberou;
e na beira de abismo se largava a pensar.

E quando em seus recônditos recolhido,
no seu drama pessoal mergulhava.
E em sua crise se fazia todo absorvido;
esta intempérie que sua existência abalava;

essa problemática toda a lhe  infligir;
pois após se iniciar na boa fé da  profissão,
a um farrapo humano se veio se reduzir,
e se prostrava mais e mais na depressão.

III

E uma vez, pensando, começou a viajar...
E viajou fundo num bom tempo que passou;
desde os primeiros passos que se iniciou a dar,
até fazer-se um graduado professor. 

E revivenciou com forte intensidade
seus bons tempos de universidade.
Desde a aprovação no vestibular;
fazendo-se um sonho a realizar.

Foi um meio inteligente em que conviveu;
com extraordinários mestres muito aprendeu,
entre os livros,  que ampliaram seus horizontes,
fazendo-se do conhecimento geniais fontes.

Bons momentos ali  reviveu;
e colegas incríveis que conheceu.
Até viveu um grande amor;
E loucamente se apaixonou.

E revivenciou até o emprego em que trabalhava,
e de onde ia pra faculdade que então cursava.
- É !  Trabalhava de dia,  pra de noite ir estudar -
que a faculdade era particular, e tinha que pagar.

E reviveu os universitários eventos culturais;
as viagens, as folias, em momentos tais.
E reviveu aquele tempo marcante em seu coração;
e tanto e bem mais lhe enriqueceu de emoção.

Reencarnou seu ser estudante de pensamentos e ideais
a  divulgar na comunidade universitária, nos murais;
sua passagem por políticas estudantis e reviveu.
E viajava num tempo em que muito aprendeu e cresceu.

E relembrou um tempo difícil ali, em que quase desistiu;
e todo o empenho para tudo superar, pelo que resistiu;
o quanto recrudesceu de apego ao seu mais caro ideal,
a firmeza em que se plantou, para chegar no curso ao final.

E reviveu seu estágio já em vias de se formar;
a luta pelo mercado de trabalho onde atuar...
Pela sobrevivência, usar do que foi aprendido;
e também desfrutar de tudo o que foi investido.

Fez-se enfim graduado, e tanto mais ainda por ser:
um pós , um mestre, um doutor, um PhD.
Mas tudo já lhe houvera feito um novo ser;
e tornou-se muito mais inspirado em seu viver.


IV


Mas agora se achava afundado sem saber
se realmente o esforço valeu...  Pra ser o que ?
Um ser humano rejeitado, desprestigiado;
um alguém abatido, um excluído, um relegado...

Salas de aula,seus alunos, sua disciplina;
quadro, piloto, livros. a escolar rotina,
era a função em que bem situado se havia;
mas agora duvidava se isto ainda  pertencia.

Pensava se uma segunda chance ainda se daria;
ou se seria melhor desta função se abnegar;
se em uma outra função bem se realizaria
ou se valeria a pena buscar ainda ensinar.

E pensava nas condições deficientes
do nosso pobre sistema de educação,
que não oferece à nobre classe docente
condições mais decentes de atuação.

Mas uma esperança nele residia;
como no bom brasileiro é natural.
e sonhava a educação contemplada um dia,
em prol da construção de o país melhor.

Haveria um dia em que se faria a revolução;
aquela em que se mudaria a triste  realidade
do estado precário da tão essencial Educação,
ou não se resolveria problemas cruciais da sociedade.


V


E assim que uma vez acordou de manhãzinha
de um belo e esplêndido sonho que lhe parecia real:
atuava numa escola que como as outras tinha
dentista,  psicólogo médico e assistente social;

biblioteca disponível a semana inteira;
uma sala de informática bem bacana;
um notebook para cada aluno na carteira
e se ensinava ética e respeito à pessoa humana.

O professor com um controle na mão;
de uma tela de led  era o quadro formado;
as salas com carpete e ideal climatização;
e as cadeiras eram de forro acolchoado.

Os professores com justo salário e motivação,
tinham todos os recursos em disponibilidade
para por seus elaborados planos de curso em ação;
e assim ministravam aulas da melhor qualidade...

E Felisberto acordou e até sorriu:
também sonhar assim já é demais...
Escolas assim no nosso Brasil,
só se for com mil anos ou mais.


VI


E logo à dureza da sua realidade voltou;
com os problemas nos quais envolvido
em que sua atribulada vida se tornou;
a luta em que agora se achava aguerrido.

Mas já se lhe amadurecia a idéia de retornar à função.
Não havia mais porque a uma nova chance se negar;
afinal, ensinar já se houvera feito em si uma paixão;
e já era suficiente o castigo ao qual se fez condenar.

Reconhecia que errara em sua destemperada reação,
Poderia ter reagido bem mais profissionalmente;
Havia na verdade metido os pés pelas mãos;
E na sua posição agiu muito incoerentemente.

Porém crescia dentro em si a ideia de ainda prosseguir,
e bem mais plantado, assumir decidido aquele desafio.
E haveria de se sair daquela triste e sombria a situação,
desde que a si mesmo, do seu campo de atuação baniu.

O Felisberto era um ser humano também, afinal;
e assim, claro, naturalmente passível de errar.
E desta forma  se lhe aclarou a mente de modo tal,
que se compreendendo, se conseguiu perdoar.

Claro, tem seus defeitos, também o Felisberto
afinal, não tem quem seja em tudo perfeito.
Mas isso só deve estimular a agir no mais certo;
buscando fazer o seu trabalho bem mais  direito.

Mas claro que tem seus ossos todo e qualquer ofício;
e não seja desculpa o salário é pouco compensador;
pois toda missão que se abraça exige seu sacrifício,
mas deverá de ser bem maior a sua porção de amor.

E  o que desejaria de verdade todo e qualquer professor,
é que não houvesse alunos ruins; que fossem todos decentes;
Mas educar é sua função; transformá-los é o  seu labor;
e é com os  piores que seu compromisso maior se faz assente.

É como se depreende de Jesus uma sublime lição:
que não são os bons quem dele mais são precisados
mas todo aquele ruim, que alma, que coração
necessitam para o bem serem transformados.

E assim é que o desafio do professor se configura:
transformar os desabusados; encaminhá-los para o bem;
tornar aqueles perturbados em bem melhores figuras;
abrir-lhes a visão; para verem-se capazes também.

e foi nessa sua linha de raciocínio a seguir,
que novamente no seu ideal se fundamentou.
e se decidiu mais motivado e firme reassumir
a tão distinta e valiosa profissão que abraçou.

E assim se determinou a dar-se mais uma oportunidade
E por tantos quantos precisam da figura do professor,
que com seu conhecimento é tão útil à sociedade.
E agora houvera adquirido mais bagagem pro tal labor.

E tanto mais já sentia falta do ambiente escolar
Da salas, da lida,   dos colegas,  tão divertidos
E com os quais mais se aprende no prosear
Ambiente de conhecimento ao qual convergido


VII


E assim Felisberto uma nova escola procurou.
Não estava fácil de encontrar, mas insistiu confiante;
até que finalmente numa outra escola se colocou.
Era o professor Felisberto novamente atuante.

Um novo tempo se fazia em sua existência.
Largou a cachaça, as drogas; a vida irregular.
Só lhe interessava agora trabalhar com competência;
numa forma bem mais procedente de atuar.

E Felisberto se fez mais brando, tolerante, paciente.
Pra certas brutezas e provocações já nem tanto ligava.
Já não estava naquela de com os alunos bater de frente;
e alguns abusos e desacatos, na esportiva até levava.

Às vezes, d’uns abusos bem se aproveitava para educá-los
com orientações sérias e precisas nas suas palavras proferidas
de profundas ponderações, para bem adverti-los e alertá-los.
E nelas se iam os mais significantes ensinamentos da vida.

Felisberto se fez democrático, a sugestões de alunos acatar;
trabalhando com seus alunos o que queriam de fato saber.
E novas práticas de ensino vivia sempre mais a pesquisar;
e aplicava-as nas salas de aula , buscando o melhor proceder.

O recomeço foi difícil, num subúrbio bem distante.
Eram três ônibus, dois trens, além d’umas caminhadas.
Já madrugada chegava cansado do dia tão fatigante,
para no outro dia, com disposição repetir a jornada.

Mas tinha muito mesmo o Felisberto que correr atrás,
pra reverter o gravíssimo quadro de prejuízo financeiro.
Estava no vermelho, com dívidas e empréstimos demais;
que ainda por muitos anos, viveria mesmo sem dinheiro.

Mas Felisberto ainda assim tinha muito boa disposição
para a sua atuação, agora com amor mais amadurecido;
que ainda que viesse  a sofrer toda aquela infernização,
em coerente compostura se faria reservado e recolhido.

Pois tudo o que viveu se fez prestimoso aprendizado;
lhe conferindo a duras penas primorosa experiência;
fazendo de Felisberto um professor muito tarimbado;
Para seguir na sua digna função com bem mais sapiência.


VIII


E assim segue bem encontrado em seu nobre ofício,
Felisberto, o distinto e experimentado professor.
Aos seus alunos, proporcionando hábil os benefícios
da indispensável e apaixonante função de educador.












UM ASTRAL NO ASTRAL

Faíscam cantos musicais estelares...
Cantos de dons virtuosamente desenvolvidos;
nas vozes firmes, na expressividade
de força imperiosa e boa iniciativa;
com a sensibilidade a fazer-lhes os corações
abertos em sentimentos e julgos,
nas histórias , quais parábolas de ensinamentos,
em lições explícitas ou sub-liminares,
d’onde aprendizados se depreendem.

Ouço cantos iluminados,
não por um simples saber,
mas por comprovação,
em graciosa experiência...
Uma de ver e crer.
E creem como os pares,
em suas asas angelicais,
reverberando despreocupadamente
a luz do amor, que é o que se faz ,
dando-se a conhecimento;
que é real, presente e sempre;
e se faz deles então
o mais forte entre seus motivos;
solução; dissolução de dores
e inspiração de vida.

Faíscam cantos idolatrados
pelo poder em beleza.
Poder que certamente
dos céus foi dado.

Faíscam cantos de estéticas refinadas
d’uns de inteligência e alegria sincera,
e que amorosamente acolhem a vida.






FLUXO SEQUENCIAL


Vivo a dispor de impulsão e força
no sentido duma  realização;
um desejo em  consumação.

Eu reajo a um mundo abrasador;
respondendo-lhe incontinenti
ao seu transtorno me imposto.

Faço-me consequencial ação
do afazer desta invocação,
qual abraçada missão.

Até se entenda obsessão;
psicótica obstinação...
Sigo juramentada obrigação;

vontade em animação,
inabalável, sem senão,
pela natural inclinação.

Se passatempo terapêutico,
ainda é capricho d’um gosto;
é assumida responsabilidade

de revelar também a luz...
E vai meu fleuma nesta arte,
sem nada mais tanto esperar,

mas fiel ao empenho
de imprimir até onde possível
consistência e valor;

me permitindo a refazer
até o quanto me compraz.
E seguindo o fluxo desde o início...

E não sou pouco nem muito
diferente das coisas que são...
E do nada que sou então,

sou exatamente o que sou, o que faço,
no cumprimento desta meta.
E sou um dos tantos que sonham.

















Aquele sonho sublime


Sonhava o mais sublime sonho
quando um vendaval lhe adentrou a vida
e se instalou em si ruinoso,
desfazendo o lar da sua morada.

O vendaval lhe inflamou o desejo;
assim saiu ao desabrigo na aventura,
cruzando extensos desertos;
correndo acelerado por entre cidades.

Passando capitais reveses,
mas resguardando-se na consciência
para salvar-se ou perder-se de vez,
foram muitos recomeços de quedas.

A rosa dos ventos alcançou enfim;
d’onde ganhou asas e direção
à terra prometida, seu destino;
onde se encontrou, seu caminho...

Agora sua estrela brilha
na eternidade do tempo;
na realidade do seu sonho.
Aquele sonho tão sublime.






Um cara sonhador e obsessivo



Viveu para viver
o seu desejo a acontecer.
E tanto fez que conquistou.
O seu sonho realizou.

Correu e chegou;
lutou e ganhou;
prometeu e cumpriu;
se insinuou e surgiu.

Demais pensou que atinou;
meditou que se elevou;
procurou tanto que achou;
intentou tanto que passou;

E tanto tentou que conseguiu;
alcançou o que  perseguiu.
Tanto quis que endoidou;
mergulhou e se salvou.

Buscou e encontrou;
se jogou e voou;
aprendeu e ensinou;
foi e ficou.

Se construiu e se mostrou;
se acendeu e iluminou;
se encheu e se esvaiu;
foi feliz e sorriu.










O sonho é


O Sonho é a cidade do viver bem,
na paz e no bem-estar;
e sendo abrangente o bem,
a natureza em paz,
na pureza do ar,
no cristalino da água,
no viço do verde,
na pureza do alimento;
no céu celeste,
de alvas nuvens,
de sol irradiante;
de noites de brilhantes.

O sonho é  realizar;
conquistar...

o sonho é a paixão do amor
tornado na dimensão do mundo.
Coração alado em vôo.





Iluminada semente

Sabotaram-lhe o silêncio seus fantasmas.
As vozes pareciam vir de bem distante.
Já os aceitando como marca do seu carma
a convivência com invisíveis falantes,

era uma tão vulnerável criatura,
impelido à loucura;
tão mais pela mais insidiosa
voz ; a mais tenebrosa.

Mas fecundou-se em sua mente
iluminada semente;
qual luz na terra escura.

E elevou-se acima daquela emanação,
como a planta se expõe em eclosão
do cerne de zona tão obscura.






Canto de um sonhador


Um sonhador canta
seus tantos e tantas.
Sonho musical,
faz-se amplo, geral,
respondendo ao mundo cão,
dilatado na decepção o coração;
inflamado no intento,
e o cabelo ao vento...

E canta viagens caminhadas;
sobre o mar, sobre estradas.
E viaja Salvador inteira,
Até cruzar sua fronteira.
E vai ao Rio do Redentor;
São Paulo no seu furor;
Brasília no sonho além;
cidades satélites suas também;
Formosa na sua saudade
Lusiânia na sua integridade.
E canta o Espírito Santo mais
Linhares, Minas Gerais.
E é Ribeirão Preto em sua poesia;
e Campos do Jordão com alegria.
Tantas cidades no seu azul;
até a Paraíba do Sul,
ganhando o seu mundo,
de viver profundo,
no encalço do pretendido;
no seu caminho escolhido.

E canta as suas ralações;
das idas e voltas,  as emoções;
tanto duro batente,
e o sonho na mente.
E fala de albergues, itinerante;
casas de estudante, e de parente distante.

Sob marquise dorme também
Sob o viaduto, tanto porém...
Na beira da estrada dormiu.
Canta o que chorou, o que sorriu;
o dilema da outra face;
a visão do desenlace...
Canta seus amores;
Jesus, estrelas, disco voadores.





VERSOS MUSICAIS

Só queria realizar meu ideal;
fazer  meus planos em consumação,
alcançando assim felicidade,
e não a triste frustração.

Em fundos dilemas me encontrei;
por caminhos errados me fiz ido;
péssimas sensações conheci;
e tanto do meu tempo foi perdido.

e tudo é razão de cantar;
dessa vida dura falar;
essa lida dura salientar,
numa história a mais,
em versos musicais,
os lances sentimentais.

Aprendi a erros não repetir;
insistindo nesse querer,
busquei sons a me reluzir,
fazendo-me crer em vencer.

A força de vontade me levou.
Fui comprovar realidades,
e foi seguindo no próprio amor,
que eu cheguei à verdade.




O AMOR CONTIGO

Se a luz se faz contigo,
em ti vai reforçar
o seu sonho projetado,
para bem realizar.

Altruisticamente,
vontade de ser
muito mais lhe dará,
sem nada mais temer.

A luz que se faz é o amor
a fazer-lhe mais e mais atirado,
com a mente totalmente
neste fim determinado.

Se o amor se faz contigo
vai lhe fazer valer,
e não terá força oculta
nem mal para te vencer.

Vai, sim ,é te resolver,
sendo sua solução.
Mais que lhe afastar do ruim,
será sua libertação.






LUZIA E ARMANDO


Luzia e Armando
se conheceram pelo carnaval,
integrados às fantasias,
embalados pelas batucadas,
nos cordões, dos blocos.
Foliões eufóricos,
pulando atrás dos trios,
e mesmo nas Cinzas
ainda se viram naquela noite.

O envolvimento deles
não haveria mesmo de ser
uma atraçãozinha de carnaval:
já na Semana Santa
assistiram juntos à Paixão de Cristo.
Irmanaram-se espiritualmente as almas;
brindaram vinho;
dividiram o mesmo peixe;
se divertiram na queima de Judas;
e se deliciaram juntos
do mesmo chocolate pascoal.

No São João dançaram
às sanfonas típicas do bom forró,
sob bandeirinhas coloridas em arraiais.
Comeram do mesmo milho,
assado na mesma fogueira;
curtiram concursos de quadrilha;
acenderam chuvas de prata;
e até viram alguns balões.

E no Natal os presentes
mais primorosos trocaram;
e suas luzes piscavam
radiantes em seus corações;
e os sinos decorativos
tocavam para aquele amor entre deles.
Belo é o amor nascente.
Aquela ceia lhes foi
além da mais especial delícia
um fator de aprofundamento
da união dos dois corações.
E das champanhas espocadas 
o brinde daquele reveillon
teve um caráter o mais distinto,
pelo muito feliz ano que se ia,
pelo que foi em que aquele amor se fez,
e pelo ano que viria,
todo para viverem esse amor de felicidade.
Os fogos de artifício da virada
jogavam para cima suas esperanças
no mais altíssimo astral.

A química que rolava ali
fazia-os estreitamente harmônicos,
e  à parte da  seriedade
que uma ligação assim possa exigir,
pelo compromisso que envolve,
fazia-os lúdicos e até pueris
a buscarem emoções
e alegrias juntos.


E assim se divertiam em parques,
brincando com seus brinquedos
até onde podiam,
e jogaram jogos eletrônicos.
Era como se tivessem a redescobrirem a vida;
a reviverem alegrias passadas.
E passearam no zoológico;
e também muito nadaram juntos
na piscina  d’um clube social
de que Armando era associado;
e mesmo ao circo foram
juntos gargalhar.

Também liam os mesmos livros,
e trocavam idéias sobre suas leituras.

E viajaram muito,
aproveitando as férias
que programaram
juntos tirarem.

Fins de semanas,
em bailes, em baladas,
muito dançaram.
E amavam terem um ao outro.
As mãos sempre se procurando,
se  curtindo a maciez
de uma à outra;
os carinhos nos namoros;
os beijos nos abraços;
os prazeres nos gozos...
A leveza daquele sentimento
os embalavam qual plumas a flutuarem.

Contemplavam juntos as estrelas
em límpidas noites.
e o sol também
era d’aquele amor.

E juntos as tantas folhas de outono
apreciaram sendo varridas pelo vento;
e aqueceram-se um ao outro
no frio chuvoso do inverno;
e caminharam de mãos dadas
pelos jardins das praças
ornamentadas de flores da primavera;
e o amor de ambos se enlaçava
com o  fogo do verão.

E curtiram acampamento,
de fogueiras, violas e saraus;
de cantorias sob o luar na beira do mar,
atravessando a madrugada
até o arrebol da aurora,
quando o horizonte se mostra
a se divisar entre o céu e o mar;
e a maré se mostra nítida e balançante
em sua superfície da cor da manhãzinha,
vividamente agitada até a praia,
em seu marulho de suaves ondas.
E era então a natureza  a se ressair,
a se mostrar gigante , portentosa, rebrilhante,
mais ainda por causa daquele amor
que existia entre eles em seus corações.
E naquelas tardes tanto se namoravam,
e eram muitas carícias até o crepúsculo
quando tornavam-se em vultos os barcos
oscilando com o mar.

E também se foram em trilhas,
empreendendo caminhadas,
a se embrenharem em matas,
soltando juntos os corações na verde paisagem.
E pescaram, e nadaram no rio
límpido daquela mata;
e dormiram dentro da pequena barraca,
aramada dentro da mata próxima ao rio,
juntos, abraçados, sentindo-se bem
um ao outro.
Os passarinhos cantavam para o seu amor...

E mesmo no trabalho
não se esqueciam:
sempre trocando mensagens.
E à noite, se não houvesse
qualquer programa combinado,
mesmo assistir na tevê ao futebol
ou até mesmo uma novela
era uma, estando juntos.
O amor que entre eles havia tinha o dom
de dar um bom tom a tudo
de tornar tudo bom para eles,
mais ainda se saindo a algum passeio,
para relaxar um pouco num barzinho,
ouvindo uma música de boa qualidade,
apreciando a delícia  d’um drink ,
e o olhar apaixonado de um ao outro;
ou pra curtir um filme no cinema;
um show de um artista a quem admirassem;
ou mesmo curtirem um som
num dancing, numa boate ou numa discoteque.
O sentimento de amor
que entre aqueles dois existia
causava-lhes uma poderosa sensação.
A mais extasiante.
Mais do que a mais psicodélica sensação
que qualquer poderosa droga pudesse causar.
Era como viver um belíssimo sonho,
da mais reluzente paixão;
era como viver a ventura
do mais puro desejo dos corações.
E sempre se descobriam mais em amor;
e não havia mistério no universo
em que pensassem ou os preocupassem.
A sensação do amor é de viver no paraíso,
uma sensação transcendente;
a sensação da felicidade em paz;
a sensação da maravilha.’

Amores assim estão fadados
a seguirem para a felicidade
de um lar dos mais felizes
no âmbito do sétimo-céu;
de chegarem a bisavôs
na mesma cândida doçura. 
Mas não foi assim que aconteceu,
porque Luzia gravemente adoeceu:
a picada de um Aedes lhe pegou de jeito,
e após dias de internamento,
o seu quadro clínico se agravando,
Armando não conheceu
o alívio da sua aflição:
Luzia morreu,
para o total desolamento de Armando
e a consternação geral
dos amigos , dos parentes, dos chegados, dos conhecidos
e de todos os que conheceram a se admiravam
daquele amor entre os dois.
Não havia quem os conhecessem
que não torcessem pela felicidade daqueles dois...

Armando nada falava,
apenas deixava rolarem as lágrimas.
No enterro não havia consolo;
nem coragem de dar os pêsames tinham...
O ombro do seu pai ainda lhe valia.
Depois se fechou num luto deprimido,
e até despertou a paixão d’umas moças:
“...aquele , sim, sabia amar uma mulher...”
Pudera pudessem assumir o lugar de Luzia.
Sonhavam viver aquele amor que vivera Luzia.
Mas o coração de Armando
se fechara para tudo, para todos,
e numa primeira reação que teve
de fazer alguma coisa,
acessou a internet
e pediu a imagem do sinistro mosquito.
Estava com ódio, e seu ódio
queria olhar para a cara do infeliz
que lhe houvera desgraçado a vida.
E ao ver a cara do monstrinho
não se pôde conter de repulsa:
Como pode ser ...? Um elementozinho tão asqueroso ...?
Por fim à sublimidade de um amor tão grandioso... ?
Por que? Por quê ?
E o semblante horroroso do mosquito
ganhava em tamanho e força na sua mente.
E tentava entender o porquê
daquela nefasta intervenção na sua felicidade.
E a Armando só restava de Luzia
as fotografias contidas num álbum:
as tantas que tiraram juntos,
e que lhe traziam Luzia forte à sua memória.
E as lembranças lhe davam algum alento;
faziam-nas despertas;
suscitavam momentos juntos;
eram mais relevantes
do que todas as palavras
que fossem faladas  sobre aquele amor.
Eram marcantes, presentes;
fazia-lhe bem por uns momentos;
o sorriso de felicidade de ambos
tão sincero pelo amor que viviam;
Fazia Armando ser levado pelo sonho ainda,
mas logo a realidade se reestabelecia
com a ausência de Luzia,
e o semblante do mosquito
era quem então dominava, triunfante.
E na hora de dormir
era um pesadelo acordado:
Armando pensava em Luzia
e logo o semblante vivo do mosquito
tomava o seu lugar na mente de Armando,
e dominava em sua mente.
Aconselhavam-lhe psicólogo, psiquiatra, religião.
Os seus temiam que ele fosse pra bebida
ou pra outra droga...

E Armando poderia buscar a solução que fosse
para o seu drama,
mas o certo é que já não era não seria
Jamais o mesmo.






ALTINO


Se achava num patamar de alçar vôo,
e seu voo já alçaria,
a voar em altos céus.
Mas veio foi ventania
batendo forte,
arremessando-o de cara
no chão a rastejar-se.
Era um sonho lindo
tornado num pesadelo.
Abruptamente assim
foi despertado
Para sua realidade:
seria tudo, não era nada,
pior do que nada:
era um aprisionado,
sob domínio de contrariedades;
debatia-se num labirinto,
num desespero indignado;
era um coração magoado
numa tristeza que só.
A felicidade que vislumbrara
tão perto, tão palpável
fora para além de alcance.
Não tinha mais a quem amava;
não tinha mais quem tinha.
Restou-lhe o desafio do desejo,
do desejo de voar
os altos céus que  sonhara;
os céus feitos tão distantes,
e um vício a fomentar este desejo.
E com a ventania zilhões
de vozes lhe vieram
a zoar-lhe o snc.
E neste abandono
um desatino se gerou,
fazendo-lhe vulnerável a razão.
Tais circunstâncias fazia-lhe
um descontrolado;
mundo arremessado,
sujeito a danosos choques
com outros mundos
Na trajetória.
Tudo remetia-lhe
a um ciclo involutivo;
e lhe consumia a alma
um fogo ardente;
e girava em círculos;
e foi dar no deserto
das miragens a mente
a lhe confundirem,
além de escarnecedores
a molestá-lo.
E era qual um bicho grilo,
d’um mal encarnado em si.

Mas tinha Altino alguma fé.
E  essa fé crescia em seu íntimo
a guiar-lhe numa intuição obstinada,
fazendo-lhe certo no espírito de decisão,
levando-lhe à fonte dessa mesma fé
onde se banhou de iluminação,
tendo  a compreensão plena da lucidez
a se despertar, a se avivar,
no planeta, sob o céu,
neutralizando as adversidades,
como a acalmar as ondas do seu mar.
Prosseguiu no seu plano intentado,
na boa sorte, do bom pão, da boa água;
teve a força na saúde reforçada;
retomou a alegria de viver;
se compraz na  dignidade de um trabalho
com o qual até se diverte;
Tem satisfação com tudo o que lhe resta.
E tirou a clara lição da própria história.

E assim  aconteceu a Altino,
que hoje voa seus altos céus,
que um dia se fizeram tão distantes,
tão impossíveis.





Razão da fera

Uma fera me feriu, feroz.
Me fiz vitimado, quis me vingar;
dilatei-me em contrariedade;
e abatê-la tive a desejar.

Mas me aquieto na fissura atroz
do meu ferimento então;
recolhido em conformidade,
que a fera está com a razão.

Custou-me alcançar a visão
que me desse a compreensão:
a natureza tem seus recursos,

e a fera seguia, como um urso
o seu instinto de preservação,
pois a cutuquei com a mão.








A estrada



Que em nada
dá a estrada,
não assinto
plenamente,

pois de qual outra forma
saberia da luz
a sorrir;
a restaurar o senso,
a serenidade;
a causar um reencontro
consigo
em paz,
em felicidade,
em sorrisos;

a dissipar
a ânsia desesperadora do desejo;
a dissipar a ânsia;
a dissipar o desespero;
a dissipar o desejo;

a infundir a compreensão ?

de qual outra forma
perceberia a luz
em tantas emanações
estelares ?

de que outra forma
saberia
da pertinência
da luz ?

que dá em nada
a estrada
não assinto
plenamente.





O amparo do ser superior


Busquei tornar-me um encanto do meu amor,
surpreendendo-lhe com magia e esplendor,
como um herói de raios reluzentes,
a invadir-lhe coração, alma e mente.

E eu teria pela liberdade tenazmente lutado,
e para tanto,  árduas batalhas teria enfrentado;
teria vingado com aprendizados; histórias
tantas no sentimento, na memória.

Seria sobrevivente dum navio naufragado
pelo mar por demais agitado.
Um mar então teria nadado,
e na praia não me ter findado.

Eu seria pelas estrela iluminado,
e revelaria segredos sagrados.
Meu amor puro defenderia;
sendo luz,  fenecer não o deixaria.

Falaria da fé que  nutria meu eu,
e de como esta mesma fé me valeu.
Como o ser superior se demonstrou,
tal que um novo mundo me desvendou.

Eu atestaria o amparo deste ser superior,
que faz valer a quem lhe tem amor,
e por ele mesmo é que se revela
a ciência de salvar-se na procela.



D’uma arte


Silêncio animal,
lua total;
medo de um
segredo incomum.

Nada mudo,
solidão em tudo;
mundo sem fim,
dor assim.

Abrigo da desesperança,
fé que balança,
no que comporta

meia cegueira,
fuga inteira,
alma morta.



TEMPOS DE ELEIÇÕES  EM QUE PAÍS ZÉ ESSE

            
               I

Em Que País Zé Esse finalmente
Zé Povo já podia votar pra presidente,
depois de um bom tempo
comandado por Zé Milico,
Zé Coronelino e Zé Coliga
que haviam na tora
tomado o poder
com o apoio de Torrico do Norte,
pois se corria o risco de vingar
as ideias de Carlos Divisov,
de pegar as posses do mundo
e repartir geral,
nem que fosse à bala,
armados os insatisfeitos,
indignados da desigualdade.
Zé Capita e Zé Burgo que tinham muito
do que se fizeram donos,
Iam tudo perder, e quase nada ter,
Então foi assim providenciada a tomada,
com a ação de Zé Milico,
aplicando o golpe baixo.
E foi o maior pega pra capar;
um bota pra correr danado!
Até Zé Gil e Zé Velô tiveram que sartar.
O bicho pegou feio,
pra lá de perseguição e xilindró,
que ainda Zé Neguinho pensa em vingança,
pois Zé Milico fez e desfez
quando sentou-se na cadeira do comando
sem que Zé povo o tivesse escolhido
para  representa-lo no poder,
do qual Zé Milico se fez dono absoluto.
E Zé Milico fez e desfez
como dono absoluto do poder:
devassando as lei estabelecidas
prendeu, cassou, perseguiu, suspendeu,
expurgou, reprimiu, censurou, dissolveu, restringiu
tolheu, exilou, tudo com muita violência.
Tornou o clima tenebroso
em Que País Zé Esse.
E era de ruim pra pior e mais ainda.
E não adiantava tentar
retornar à ordem antes estabelecida.
Quem  nela gozava de prerrogativas
Zé Milico atropelou.
E não adiantava fazer cara feia,
reclamar da situação por Zé Milico imposta.
Quem quisesse que dissesse alguma coisa,
Zé Padrino, Zé  Escolino,  Zé  Operrarino.
Que se articulassem greves e passeatas...
Teve gente que partiu pro trabuco
para encarar Zé Milico;
para derrubá-lo da cadeira
onde jamais deveria ter sentado.
Inspirados em Fidelão e Chegue Vara,
assaltaram, seqüestraram, o diabo !
E Zé Milico mais radicalizava
na linha dura da coisa,
e mais suspendia, e intervinha,
e demitia e obrigava;
e mais cassava, e mais expurgava...
E fazia tudo mais tenebroso.
E Zé Milico contava também 
com televisão beneficiada no golpe de Zé Milico.
Ela dava cobertura a Zé Milico
Propagando para Zé Povo
que tava tudo porreta,
e que quem não tivesse gostando
de Que País Zé Esse que se picasse;
que Que País  Zé Esse iria pra frente;
que Que País Zé Esse tava muito bem;
que tinha gente com dinheiro;
que se estava construindo no seu chão
obras tão monumentais;
que Que País Zé Esse vivia tempos milagrosos,
com a indústria se expandindo,
com muito investimento dos gringos.
Porém Zé Neguinho dizia
que Que País Zé Esse estava se afundando
em dívidas externas pesadas,
comprometendo o futuro de Zé Povo,
que já sofria pelo que o país lhe devia.
E Zé Neguinho dizia também
que grande parte da sociedade
se encontrava penando na exclusão,
e que não tava rolando nada de legal
para educar  e dar saúde a Zé Povo.
Mas Zé Milico com a sua tv engodo
dizia  era tudo intriga da oposição,
que Que País Zé Esse  ia muito bem
que tava jogando bola como nunca
de ganhar campeonato e tudo.
E a promessa de Zé Milico
era a de dividir um tal bolo,
e que o bolo estava crescendo;
que a economia ia de vento em popa;
que a indústria estava se expandindo;
que tava entrando muito dinheiro...
Mas como se vive à mercê
de flutuações internacionais
rolou crise de ouro negro,
energia do progresso e da destruição,
e aí em Que Páis Zé Esse
começou uma inflação a se monstrar.

Mas diz  Zé Neguinho que Torrico do Norte
botava grana pra combater os insatisfeitos,
para reprimir legal, brutalmente.
E por aí agiam Zé Dói e  Zé Codi,
principalmente os que partiram pra bala
pra combater Zé Milico.
E aí sobraram Zé Lamarcô  e Zé Mariga,
ativistas da resistência
por parte de Carlos Divisov.
E destruiram guerrilheiros e redutos.
Só sei que Zé Milico fez muita sacanagem.
Além de roubar do povo a democracia
ainda prendeu, torturou, perseguiu exilou
E até matou, cruz credo!
Zé Neguinho diz que assim foi com Zé Zógue,
com Zé Manoel , com Zé Dirigino, com Zé Faculino...
E o pau que dava em militantes,
dava em simpatizantes...
Mas já tinha gente falando
dessa onda braba de Zé Milico.
E o que mais falava era Zé Ulissa,
denunciando Zé Milico.
E pior que a inflação já tava a pleno galope
E os problemas de Zé Povo tavam inchando.
E além de Zé Ulissa,  falavam também  Zé Simão,
Zé Rixa, Zé do Touro, Zé das Neves;
e falava Zé Vogado, Zé Impresso,
Zé Comunidade, Zé Padrino, Zé Sinde;
e até mesmo Zé Árnis e Zé Câmara.
E a coisa já tava mesmo explodindo,
e já tava rolando uma articulações:
e era  Zé Professa, Zé Dotô e Zé do Banco;
e Zé Padrino atuava na terra, no campo,
e Zé Povo muito se movimentava.
E eram muitas as reclamações:
por lugar pra tomar conta de menino,
por casa, por água...
E se movimentavam Zé do Bairro,
zé Nêgo e até as Marias.
E Zé Milico permanecia firme na cadeira,
mas já começava a ceder aos poucos,
e liberou a volta duns caras
que foram expulsos pelo próprio Zé Milico
no tempo do bota pra correr,
e aí voltaram Zé Briza  e Zé Arras.
Zé Milico porém não tinha controle de seus pares,
e entre eles muitos haviam descontentes
com a liberalização de Zé Milico
e se fecharam em grupos paramilitares e extremistas.
Seqüestraram  Zé Padrino e Zé Liderino...
e explodiram na câmara , em entidades,
como a de  Zé Vogado, em Centros de pesquisa,
em Jornais , dos quais até incendiaram bancas.
Acabaram até por se explodirem a si próprios...
Mas Zé Milico continuou liberando.                  
E legalizou rolar um bocado de partido;
e Zé Sinde ganhava nova força.
E tava rolando muita greve mesmo
e nestas circunstâncias surgia Zé do Trampo
grande comandante de greves.
Mas Zé Milico também,
de acordo com as suas conveniências,
ainda intervinha e prendia,
e alegava ameaça à segurança nacional
De Que País Zé Esse.
Mas ainda assim,  Zé Sinde encarava
com muita determinação.
E Zé Milico tomava mais dinheiro emprestado,
e a dívida externa de Que País Zé Esse só aumentava.
Mas Zé Milico tava mesmo decidido
a deixar a cadeira pra Zé Civil,
mas não era ainda Zé Povo que ia resolver.
Parecia que a vontade de Zé do Povo era Zé das Neves
E aí foi articulada uma  formação com Zé Sarnento,
sendo que Zé das  Neves, mais Divisovinsta
é que ia sentar na cadeira
enquanto que Zé Sarnento,
mais para o lado das idéias de  Utorrico, 
ia ficar colado...
O importante  era a grande corrente
em favor da Dona Democracia voltar a reinar,
preparando o terreno para Zé do Povo poder escolher
o Zé Presidente que ia sentar na cadeira primeira
De Que País Zé Esse.
Mas aconteceu de que logo que Zé das Neves ia  sentar
Acabou  indo pro hospital e de lá se foi embora.
Zé  Povo ficou muito consternado,
Zé Neves era muito querido; era uma esperança...
Mas aí foi Zé Sarnento quem na cadeira se sentou.
O primeiro depois  de Zé Milico.
Claro que não foi ainda a vontade de Zé  Povo,
mas de Zé Representino e seus pares
contra  os outros,  ímpares...
Zé Neguinho até hoje desconfia da partida de Zé Neves,
que  tem coisa aí de Zé Milico e Torrico...
Mas Zé Sarnento era mesmo quem tava no comando
De Que País Zé Esse

( Continua... )




A DIVERTIDA VIDA


Nasci um lindo e forte bebê
Tive  o carinho dos afetos
Maternais e paternais
Os mimos dos titios
Dos vizinhos
Dos que se entusiasmavam
Com o meu ser  bebê
A fazer-me se desprender
Em risinhos de contentamento
Induzidos pelos olhos e dentes risonhos
De vozes se fazendo
De falas de nenezinho
E cosquinhas a fazer-me
Expor as gengivazinhas
Sorrindo até às gargalhadas
.
A relação entre vida e prazer
Fundamentava-se em meu inconsciente
Como o princípio da felicidade
Como um bem a se suster na alegria.

Aos laseres infantis
Próprios de crianças
me entreguei  criança naturalmente
A brincar com meus brinquedos
Movimentando veículos
Puxados por barbante
E eram curvas tais
Que viravam e capotavam
Também era  mecânico
Consertava a roda que se soltava
Prensando com um pedacinho de papel
A ponta do eixozinho de metal
No orificiozinho da rodinha
Pra favorecer-lhe uma sobrevida,
Uns bons quilômetros em metros
E assim é que dirigia caminhonetes
Caminhões, ambulâncias, viaturas,
Caminhões do corpo de bombeiros
Caminhões de botijões de gás
Ônibus e até cegonhas
A levar muitos carros de passeio,
Ford, Chevrolet, Volkswagem...
Por vezes guiava tanques de guerra
Pilotava aviões e helicópteros
era maquinista de trem
Comandava navios a cruzarem
Os mares sobre suas rodas
Por vezes experimentei veículos
De artesanais carrocerias
Latas de óleo, pintadas,  e pneus
De sandálias recortadas,
Pesados, mas deslizavam macio...

Tanto mais me divertia  guloseimas
Que me adoçavam o paladar
Em  inigualável e agradável satisfação
Pelos queimados, pirulitos e drops;
Pelos bom-bons, tico-ticos, tabocas ;
Paçocas, cocadas e Marias-moles ;
Entre tantas outras doçuras
Pelas quais  então aprendia o valor
Das moedinhas pelas quais
Se trocavam por tais preciosidades.
E assim quando ganhava trocados
Exultava de alegria.

Diversões outras brinquei
Com os vizinhos da  minha comunidade
Meninos como eu crescendo:
Esconde-esconde, Cabra-cega ;
Chicotinho queimado, Ciranda ;
Morto-vivo , Resgate;
De Casinha, de médico;
De polícia e bandido,
tive revólveres de plástico
E até de espoleta.
E eram tiros e corpos caídos ;
E corpos que não queriam cair
Que alegavam ter atirado antes
E eram perseguições e tiros
Mortos em emboscadas
E assim caiam os corpos no chão
Que levantam e recomeçam.

Também da televisão
Vinha outras diversões com que folgava
Eram  os desenhos animados
Das mais incríveis histórias
E eram filmes das mais densas aventuras:
astronautas, viajantes das galáxias
Em naves espaciais de planeta a planeta
Enfrentando os perigos do Universo
Cheio de mistérios;
E eram viagens ao futuro, ao passado,
A outras dimensões;
E eram viagens submarinas; robôs; heróis;
Cachorros super-inteligentes;
Cavaleiros das matas, da justiça;
Agentes secretos invencíveis;
E eram perseguições alucinantes de carros;
E era o rei da tribo; e eram piratas;
E  eram mistérios; suspenses; catástrofes;
E eram monstros; e eram comédias;
E  eram cenas de novelas também;
E era o futebol com seus gols;
E eram shows de música
Gostava de ver os artistas cantando
Os músicos tocando no palco iluminado
A platéia vibrando em gritos  e aplausos
A magia da música adentrando-me
Os ouvidos à alma pueril
A música desde sempre me ganhara
E gostava de passar o tempo a cantar
Divertia-me solitariamente no quintal
Com algo à mão se fazendo de microfone
Imaginando toda uma platéia a me ouvir
Mas no final do meu show
Só tinham me ouvido apenas
Minha mãe ocupada na cozinha
E talvez algum vizinho mais próximo.
Meus irmãos menores não ligavam
Para esses meus showzinhos  imaginários
Era apenas uma brincadeira de que gostava
Mas eles não se interessavam
Meu irmãozinho pequeno dormia no berço.

Então chegou o tempo de estudar
era eu indo pra escola
Querendo ainda brincar
Na inocência da vida
No jardim de infância
Aprendendo outros jogos
Entre uma e outra regra de higiene
Como aprender a escovar os dentes
Entre uma e outra regra de convivência
E os primeiros rabiscos no papel.

A ida ao jardim de infância
era um momento que apreciava
levado por minha mãezinha
ou por alguma vizinha adulta
gostava de estar no movimento da rua
vendo de perto os carros,
caminhões, motos e ônibus
em seus movimentos e barulhos
eram os veículos de verdade
de vários tipos e cores
E no jardim, a curiosidade entre os colegas
Em se conhecerem uns aos outros,
Tagarelices  e brincadeiras.

Depois, já na escolinha primária
A certa altura, já grandinho,
Não era mais levado por minha mãe
Mas acompanhado de meu irmão
E mais os vizinhos que lá também estudavam
E íamos todos numa animação na caminhada
E tome-lhe conversas e brincadeiras
E perdíamos tempo tocando nas folhinhas
Que então se fechavam ao que sentenciávamos
“feche a porta que seu marido já even”
Depois vieram aventuras de atirar pedras
Em árvores a derrubar seus frutos
E até mesmo entrar em propriedades alheias
Procurando frutos caídos
E sair correndo de cachorro assustados
Ou mesmo do dono da casa a gritar
Depois ríamos juntos destas travessuras
Jurando nunca mais fazer tal coisa
Mas como resistir àqueles frutos no alto expostos,
E desafiando-nos a demonstrar boa pontaria?
Estas travessuras mais aconteciam na nossa volta
E na volta da escola também passávamos
por sobre uma ponte sobre o rio
já chegando no mar em que desembocava
e esta ponte era também a pista dos carros
e devíamos seguir pelo seu passeio
mas pelo nosso instinto aventureiro
procurávamos passar por sobre um estreito
que se estendia de um lado ou outro do rio
paralelamente à pista, um concreto que revestia
e protegia  algum duto, e tinha forma de cone
ali então exibíamos a nossa coragem e heroísmo
ante os transeuntes que ora por ali passavam
e dávamos o último passo sentindo-nos vitoriosos
e pulávamos então o muro para o chão firme
lá embaixo o rio era de uma água escura e fétida
uma queda ali poderia até não vir a ser fatal
mas que ia ficar coberto de podridão, isso ia
e pensar até que se poderia engolir tal água...
e não duvido que houvesse quem torcesse
por presenciar tal acontecimento
mas não soube que tenha acontecido
atravessávamos bastante concentrados
porém nem todos colegas
se arriscavam em tal empreitada.

Mas a diversão que mais sucesso fazia
na minha escola primária era o baba
na hora do recreio quase sempre
tinha uma bola que alguém levava
e o baba era muito disputado
e tinha baba num terreno de barro duro
e também no pátio, que era coberto,
com uma bolinha menor geralmente
porque no pátio que era cimentado
até um caroço de manga chupado servia
no pátio não podia ter goleiro
havia uma porta sempre fechada de um lado
e outra  porta sempre fechada do outro lado
era exatamente os gols
que cada um dos times defendiam
e deslizava pra valer o caroço de manga
e não era fácil fazer um gol no adversário
pois mesmo não havendo goleiro
sempre havia um zagueiro ali colado à porta.
Quando o baba estava rico no pátio
Era uma bola pequena de plástico
Já envelhecida e endurecida
Quando não era uma de meia ou de cordão.
Pois uma vez indo para a escola
Ao avistarmos algo lá embaixo na margem do rio
Tivemos algum trabalho mas o resgatamos
Servia na medida para o nosso baba no pátio
Era uma cabeça de boneca de borracha
Estava ainda com o corpo
Mas só nos interessava a cabeça
A qual enchemos com papel e plástico
E improvisamos uma costura  ali na base do pescoço
Pois fez o maior sucesso a cabeça da boneca !
Deslizava redondinha no pátio
E todo mundo queria fazer gol com a cabeça da boneca
E foram muitos dias de baba com a cabeça da boneca.
Mas a brincadeira com bola não se limitava
A ser praticada unicamente na escola
E não era apenas brincadas com babas.
Mas também a gente brincava na comunidade
De “virou” , de “cabeceou” , de disputa de pênaltis,
De “quadrado”  , de  “bobinho” , de “cruzou”,
De  “dois toques” , de “salão” , de “rebatida”
De  “fazer pontinhos” , de “dar nó”  e tudo mais

Mas na escola também eram
muitas outras as brincadeiras
Como por exemplo bater figurinhas
Pois era uma diversão colecionar álbuns
E muitos colecionavam álbuns
E assim, depois de trocar as figurinhas
Por aquelas que não tinha
A gente disputava as figurinhas uns dos outros
Juntando a mesma quantidade de um e de outro
Emborcadas no chão ou sobre outro lugar liso
Após bater “par ou impar”
se batia com a palma da mão
Sobre as figuras amontoadas
E se ficava com aquelas que se conseguia virar na batida
E havia muita sabedoria e manobra para levar
As figurinhas do concorrente
Só não se encontrava figurinha difícil pra trocar
Também  brincávamos brincadeiras
Usando páginas do caderno
Eram brincadeiras como “forca”,
Em que se  acertava as letras
Que formavam determinada palavra
Da qual só se apresentava
as linhas das suas letras
Ou era então enforcado 
Também brincávamos de fechar
casinhas quadradas através de pontinhos
cada casinha que se fechava
ganhava uma inicial do nome
daquele que fechava o quadradinho
no fim quem tivesse mais quadradinho ganhava
havia quem colasse de brincadeiras
como ABC ( Abraço, Beijo e Colada )
e pela qual se devia ter sempre
essa inscrição  grafada na pele,
ou se fosse pego ou pega sem isso
tinha que permitir ser abraçado e beijado na boca
esta brincadeira era entre meninos e meninas
mas os meninos nunca usavam essa inscrição
pois torciam para serem intimados
e flagrados  sem a inscrição
para então terem de permitir
serem  abraçados  e beijados
já as meninas geralmente usavam
para evitarem de serem obrigadas a tal beijo
o ABC não era muito comum
era mais um pretexto entre colegas casais
que já tinham alguma inclinação mútua
Era mais comum ,sim, o PMP
(Pague Meu Picolé ) ,
pelo qual aquele que fosse pego sem as inscrição
Era obrigado a pagar um picolé
Para o outro com quem houvesse colado
E que lhe flagrou sem a inscrição
Havia também colar de algo
Pelo qual a prenda era receber um murro nas costas
Se fosse flagrado sem a tal da inscrição na pele
Mas essa não era nada divertida
Porém até que era um tanto comum.

Na escola também havia certa brincadeira
Que era proibida e censurada
Mas praticada entre casais já crescidinhos
Era a chamada fazer ousadia
E mesmo em sala de aula acontecia
Entre casais sentados na mesma carteira conjugada
Bolinavam-se uns aos outros por debaixo da carteira
Tinha colegas que faziam isso até nas aulas de catecismo
Talvez até a professorinha percebia mas nada fazia
Quem sabe até se divertia com aquelas cenas
Talvez até se excitasse.
Aliás tinha casais colegas que praticavam ousadia
Mesmo no caminho para a escola
Na ida ou na volta, entravam num mato
E se ficavam a roçar suas partes sexuais
As aulas de catecismo eram preparatório
Para a primeira comunhão
Eram ensinamentos sobre Nosso Senhor Jesus Cristo
E nela a professorinha ensinava sobre a morte
Que existe porque tendo Deus pedido a Pedro
Que jogasse sobre na água uma maçã
Para que não afundasse, Pedro jogou uma pedra
A pedra afundou, e por isso passou a existir a morte
Todos ali ficaram com muita raiva
Desse tal de Pedro.
E para fazer a primeira comunhão
tinha que se confessar com o padre
era a primeira confissão
em que se devia expor ao padre
todos os pecados praticados
para receber o perdão e poder comungar
com Nosso Senhor Jesus Cristo
e o padre então ouvia os pecados
mas não aceitava não ouvir dizer
que houvera o confessor feito ousadia
então o padre perguntava ameaçador
se não houvera feito ousadia
que não devia se mentir para Deus
e a gente se via pressionado
a relatar as ousadias praticadas.
naturalmente a professorinha passava
aquelas informações para o padre.
E ali naquele ambiente cheio de anjos
E olhares tão sérios num clima
Quase que aterrorizante
Neguinho abria o bico direitinho
Pelo menos quem houvera pecado assim
Mas parece que o padre sabia bem a quem pressionava.
Também essa brincadeira de fazer ousadia
Podia acontecer também entre meninos
O que chamavam de troca-troca,
mas não era muito comum e pouco se via.
O que mais acontecia eram entre menino e menina
Uma vez mesmo na banca
Enquanto a professorinha da banca
Se ausentou um pouco
para ir à cozinha fazer qualquer coisa
Enquanto a gente fazia o dever
Um dos tais inventou de procurar sua gilete
Que queria fazer a ponta do lápis
Então pediu a uma menina para levantar
Para ver se ela não estava sentada em cima
A pobrezinha levantou-se
Foi o suficiente para que este a agarrasse
Por trás pela cintura e não quisesse soltá-la mais
A menina gritava, foi a maior zoada
E a professorinha da banca chegou
E viu aquela cena chocante,
o taradinho qual um cachorro
em seus movimentos sexuais
Gunçado nas nádegas da pobre menina
Estava mesmo no vício da ousadia
A professora gritou-lhe num desespero
chamando-lhe a atenção
E a banca naquele dia se encerrou por ali
E a menina chorando,  coitada
Acho que aquele menino tomou uma boa surra
Eu não queria estar em seu lugar
Ajoelhado no milho e de cara para a parede
Por um tempo bem longo.
Aliás esse mesmo já houvera tentado
Baixar as calcinhas das filhinhas duma vizinha
Quando foram com a mãe à sua casa
para uma breve visita a sua casa
por uma precisão passageira.
Mas desta vez parece que ele
aprendeu de uma vez por todas.
Mas dizem que ele, depois de algum tempo
Chegou a consumar relação sexual com uma prima
E também aproveitou-se de uma mulher
Que dormira embriagada em sua casa
Depois de uma festança que foi até altas horas.
Mas nada disso se comprova.
O certo é que ele cresceu e viajou
Viajou para bem longe e nunca mais se viu
Mas todos o tinham como destino certo
Ser preso por estupro quando crescesse
A diversão de fazer ousadia
Acabava por ser um problema sério

Mas eu era ainda uma criança,
Um pré-adolescente que crescia
Ligado nas diversões desta vida
Como criança sempre
Que só quer brincar e brincar
E então chegou o tempo de brincar de algo
Que muito me divertia a  me tomar
O tempo, a mente os sentidos:
Era empinar arraia.

                                     ( continua ... )

          

 



Luminoso


Luminoso é um coração repleto de paixão,
que em versos expressa esse seu universo,
em melodias impregnadas de poesia,
que pela lira  do seu peito tira.

E faz ressair o mar que vive a navegar,
as estradas da fé, cruzadas a pé,
uma  alegria que suprime passada sangria,
e um impensável Jesus em jubilosa luz,

mais que esperança, sua bem-aventurança,
sua estrela do norte, sua boa sorte,
alcançada graça que ao mundo repassa
qual o seu final feliz por um triz.

É sobrelevado ativo de tantos negativos:
da demência quase fatal em sua inocência,
do mal  a si tomado em seu ser anormal,
da dor em que se tornou seu ser de  amor;

do pesado tormento trazido com o vento,
da loucura que lhe consumia em tortura,
dos açoites dumas tempestuosas noites,
de desgraças acentuadas na cachaça.

Sem mais medo d’algum segredo,
do desconexo de cometidos sexos,
de destroçadores beijos em seus desejos;
tem mais mistérios a fazer-lhe mais sério.

E faz ressair a guerra velada na Terra.
Faz qual de Marte sua vigorosa  arte;
faz-se mais forte do que a própria morte;
estampa um sorriso que sugere o paraíso.

ratifica que lhe intercedeu o próprio Deus.
conversa que lhe salvou de sina  adversa,
desfazendo o inferno que se lhe fazia eterno,
o que lhe despista de convicções ateístas.

Luminoso tem o dom de ser um ser bom;
de ser alguém de grandioso bem,
de uma euforia que a todos contagia,
e de uma paz que não acaba mais

Luminoso faz ressair a beleza da natureza,
o sol que irradia proeminentes dias,
a  diáfana lua que à noite se acentua,
e as estrelas se ofertando a  lê-las.

Luminoso com a viola se consola
duma  saudade cruel que invade;
Dispõe do que de bom ainda sonhe,
Faz sua vida tornada em instigante lida.










Passageiro da vida

Sou passageiro da vida,
esta que é sustida pelo fogo,
pelo ar,
pela água,
pela terra,
a me proverem o alimento,
a respiração,
que me sustentam a existência
que vivencio.

Sou arrebatado pelos mistérios,
os  quais me fazem o pensamento a divagar,
nas indagações por desvendá-los,
nas matutações , nos estudos,
qual filósofo, qual cientista,
nas viagens no si do  ser,
nos laboratórios, nas naves,
nas idéias de possibilidades
do abstrato, do concreto.

Entrego-me à contemplação                                           
do belo pelo olhar,
do que se aprecia pela iluminação,
solar, lunar, e mesmo estelar,
que faz ressair o espetáculo
da natureza inspiradora,
sugestionadora como o mar.

Sou mais um no mundo,
este mundo do bem, do mal;
do bom, do ruim;
das alegrias, das tristezas;
dos risos, das lágrimas;
do êxtases dos  sofrimentos;
dos desejos,  das desilusões;
dos caminhos, dos descaminhos;
dos sonhos,  dos pesadelos;
dos encontros, dos desencontros;
dos embates de forças;
das crenças, das fés;
da esperança resguardada no amor;
dos seres protuberantes,
pulsantes como música;
das lutas pela sobrevivência em paz,
pela tranqüilidade mais serena,
pelo vôo da liberdade,
pela conquista da realização.

Sou invólucro de sentimentos,
no coração moldados;
das experiências acumuladas
desde os remotos do meu ser.







Rutilâncias de um corpo estelar


Do seu corpo reluzente
vêm em centelhas resplandecentes
desde o coração flagelado
aspectos do tanto acumulado,
marcas do que aí se fincaram
num lance que vivenciou:
Sangue cristalino,
Lágrimas dum desatino,
Amargor dum destino;

do seu corpo irradiante
vêm em fagulhas brilhantes
desde o coração magoado
coisas de males vivenciados
num rumo que tomou,
num querer que intentou:
sofrimento da paixão incontida,
saudade funesta da vida perdida,
dor pelo amor tornado em ferida;

do seu corpo refulgente
vêm  em faíscas luminescentes
desde sua alma torturada
emoções desabafadas
espinhos cravados no seu ser
num tempo do seu viver:
expectativas em desilusão,
sonhos em frustração,
melancolias em depressão;

do seu corpo relevante
vêm em lampejos rutilantes
desde sua mente apurada
estilística requintada,
estética realçada
na sua arte ostentada
com alegria pertinente,
de sorriso realmente,
dum prazer entrementes.














No  futuro

pode o futuro
não vir a ser o presente
sonhado no passado

aquele presente de conquista
tão querido no passado
de um futuro a se realizar

pode dar no sentimento
mexer com a emoção

alguma desilusão do que poderia
                frustração do que deveria
                a lembrança do que seria

mais agravantemente ainda se há sofrimento
                                                               perdição
                                                               inconformidade 

mas pode haver ainda maior alegria
encontro
graça

se o futuro se faz eternamente
um presente de ventura
jamais no passado imaginado


   




A luz acesa

Essa coisa de se fazer
O seu universo aberto
Do coração
Em exposição
Manifestando-se em
Em palavras, em versos
E que é tão comum
A um poeta, a um artista
Para lá de que  possa
Consistir-se em vício
Amor às palavras
Gosto do trato com elas
Métrica, rima
Apego à estética
Desabafar de algo
Desafogar as neuras
Expressar os sentimentos
Evidenciar o pensamento
Destilar emoções
Divulgar idéias
Ou ainda uma questão psiquiátrica
Em que uma terapia psicológica
Aplicada a uma patologia existencial
Agregando ainda a questão metafísica
Ontológica e escatológica
Em que se alcança o sucesso
Do procedimento
Não pela cura
Mas pelo controle
Ao que se faz encaminhar o afetado
Num autoconhecimento contínuo
e/ou ainda numa contínua
desconstrução
neutralizando progressivamente o problema
atenuando os sintomas
ou mais que seja por mais do que um abraço
à causa literária, com paixão
mas um comprometimento vitalício
aceitado o desafio
empreender a obra através de si
revelar  um mundo paralelo
através de si
ou ainda uma simples intenção a poeta
a se mostrar de qualquer jeito
no seu jeito
ou se perguntando se é poeta
ou aprendendo a ser poeta
revelando-se no mundo
praticando na fé cega
sem parecer preocupado
com senso ou ridículo
erros e fraquezas
ou vergonha qualquer que lhe ressalte
ou ainda que pareça ser
por sustentar-se ou a um ideal
ou fazer o canal de veiculação
de alguma ideologia
ou ainda uma consciente obrigação
um ofício com ossos e tudo
ou apenas uso abuso e exploração
de um dom, de um talento
aqui se faz mais motivada,
Insistida e presente
Pelo justo pretexto
de expressar um desvendamento
e ressair a vida ainda
               num olhar
               num sorriso
atestar que a luz
ainda está acesa.








OITO DE MARÇO


Mulher,
tu és a beleza
e a delícia
da vida.

Ah! Que beleza !...
Ah! Que delícia!...




Asas de quimera


O enfado da vida
me cansa mais e mais
o lugar comum.
Esta idéia então
se me acende:
um inédito caminho
por onde seguir,
que ainda que me leve
a nada, ou até menos,
desventura ou fim,
me fará viver
nuances ímpares:
vestirei asas de quimera.
Mas almejarei
a ventura mais plena.

Vestirei asas de quimera
que só assim será
motivação ao meu viver;
desvencilhamento
desse tedioso momento,
sem movimento,
emperrado;
final de um percurso;
e é preciso se inventar
um fluxo pra se seguir.

Vestirei asas de quimera.
Aguçarei altamente os sentidos;
estenderei minha visão sobre o mundo;
buscarei viver a lindeza de um sonho;
constatar a existência do paraíso;
atestar  o esplendor da natureza ;
Sentir extasiantes,
nirvânicas sensações;
empreender viagens astrais;
contactar com seres elementais;
celebrar em festividades a vida;
compenetrar-me das maravilhas.

Vestirei asas de quimera.
Não me deterei aos reveses;
ao que se venha de contra,
pelo mal ou pelo que seja;
não sucumbirei ao pânico
de pesadelos que se façam;

Asas de quimera me encaminhará;
me refará de passos errados;
me levará a aprender;
a vencer maus pedaços;
obstáculos que se interponham;
não me deixará
acomodar-me em perdido;
me valerá.

Atrelada a mim,
me levará à compreensão
do que jamais compreenderia
contemplando o absoluto.

Vestirei asas de quimera.






Ao sobrevivente


Ter passado ao largo daquela morte
faz-lhe bem mais vivo ser,
revelando-se em seu melhor.
Mais se o amor a lhe valer...

Revela-se em plenas satisfações,
mesmo se alude ao drama fatal.
Mais se o planeta se lhe descortina
um paraíso como tal.

Evidencia-se sua autoestima,
confortada no entendimento,
fundamentada em sua razão,
ampliada em seu autoconhecimento.

Situa-lhe num altíssimo astral,
de bons fluidos em emanação.
Da brisa inda goza suaves carícias,
e o sol mais clareia seu coração.

E se tem da vida a máxima graça,
desfruta mesmo de um melhor viver,
tendo-se sempre na mais cara inspiração,
deleitando-se no mais refinado prazer.

Tanto quanto tão espiritualizado,
faz sobressair-se em encanto e beleza;
tendo o mundo tomado em poesia
de plena sabedoria e leveza.

Tem em si um bem precioso da natureza,
que o faz afinadíssimo em seu tino,
numa alegria de real expressão,
que permeia a vida em seu destino.






Vão-se versos


Vão-se versos em fluxo incontível
Desde corações, mentes, psiques
Inclinadas, afeitas,
Desenvolvidos desde puros intelectos
Desfiando suas compreensões
Desde luzes estelares
De amplo brilho
E de claras iluminações
De vastíssimo alcance

Vão-se versos sob ordenados controles
Cristalizando pensamentos
De passionais sentimentos
De ideológicas ideias

Vão-se de emoções
Das quais invólucros somos
E nas nuances da vivência
Às quais sujeitas
Na fatalidade da existência
Pelos momentos determinantes
Pelas próprias suscetibilidades
Pelas próprias idiossincrasias
Se fazem

Por uma força motora em si
Vão-se sobressaídos
Neste âmbito que se faz
Conflituoso e sôfrego
De  pertinentes embates
De egos e interesses
Pessoais ou altruísticos
De todo envolvimento
Trazendo cargas consequenciais
Em suas  inerentes palavras

Vão-se do instinto de ser
Vão-se gerando-se
Vão-se perpassando
Vão-se longe
Vão-se perto
Vão-se plenos
Vão-se diminutos
Vão-se simples
Vão-se exuberantes
Vão-se em aspectos tantos

Vão-se em deduções analisadas
Alcançados do raciocínio
Pensados e repensados
Vão-se sentenciando os concluídos

Vão-se dos para quem
Numa visão cósmica
Sem científicismo comprobatório
Do universo e de nós nele
Somos sobre a Terra
Frágeis existências
Pobres animaizinhos
Sem conhecimento
Do próprio porquê
Conscientes apenas
Do senso de ser
De estar, de lugar, de fim
Da inteligência que nos distingue
Dos irracionais
E que faz o que somos
Em seres
Irresponsáveis de si
Inocentes de si
Na própria geração
Que então se operou
Enigmaticamente

Vão-se amplificando em nós
A ignorância de nós mesmos
Em que mergulhados somos

Vão-se desistidos, descrentes
Da busca do entendimento
Da vida
Do alcance do mais remoto
Da gnose total

Vão-se racionalmente
Sem magias
Sem misticismos
Sem fantasias

Vão-se obedientes
Da própria consciência
Sinceros em si
Versos que vêm a mim
Lógicos
Como tais
























Sobre porrada


Pelo tema sobre o qual
Ora instigado me debruço
Relevo o grandioso Fernando
Pessoa admiravelmente vasta 
Em sua magnífica arte
Quando num dos seus rematados textos
Provocante, irônico nos afirma
Que  nunca conheceu alguém
Que houvesse levado porrada,
E que seus amigos
Sempre foram bons em tudo...
E como haveria de conhecer
Quem houvesse levado porrada,
Pois quem haveria de confessar
Ter sofrido tão vexatório fato,
Tal a vergonhosa humilhação que encerra?
A menos que se siga a tal confissão
O relato de um revide instantâneo
Numa atracação corporal em luta,
E que espancou, ou que feriu ou que matou;
Que enfurecido venceu o seu feroz agressor.
Nesse caso o amigo contaria com gosto
Pousando de estupendo herói
Pois  a porrada que levou foi vingada,
E assim não lhe dói.

Tal confissão pode ainda acontecer
Se o amigo, tendo tomado porrada,
Tenha reagido e se engalfinhado
Com seu oponente em acirrada luta,
Pois ainda que tenha levado mais porrada
Até que a turma-do-deixa-disso chegasse,
Pelo menos enfrentou o inimigo.

Porém como vai confessar o amigo
Que quando da ultrajante agressão
Reagiu covarde e frouxamente,
Correndo assustado, amedrontado,
Ou se amuando ressabiado,
A  guarda baixa, receoso de mais ? 
Quem  haveria de confessar tal rebaixamento,
Seguido de uma atitude tão anêmica,
À altura dos grandes fracos ?

E nenhuma desculpa lhe seria satifatória
Para eximir-lhe da vergonha:
Que seu agressor agiu covarde,
Indecente e  inesperadamente
De uma forma vil e ardilosa
Atacando-o de repente e sem aviso
Sem dar-lhe chance de defesa,
Já que não o desafiou para um duelo,
E o fator surpresa o pôs em estado de choque,
Fazendo-o perder o senso e o poder de ação,
E se lhe instalou um clima agônico;
E quando se viu já estavam as pernas
Correndo em  irreprimível disparada;
Já batia acelerado em retirada,
No pânico que se lhe instalou,
Fugindo aflito escarreirado
Daquele que não pôde encarar,
No desesperado medo do pior...
Nada disso na prática vai anular
A conotação desonrosa que o fato assume

E nem adiantaria tentar justificar
Que as condições não lhe eram favoráveis,
Ou que se achava num lugar estranho,
Ou que seu algoz estava de outros acompanhado,
Que  certamente lhe viriam em cima,
O que lhe faria em grande despartido,
Caso reagissse à altura,
Dominando o seu oponente,
E lhe agrediriam em linchamento
Fazendo-o vitima de graves escoriações,
ou quem sabe até d’um desenlace fatal,
Mais um objeto triste
De um trágico caso de violência...
Só iria acentuar-lhe a pulsilaminidade.

Também não adiantaria tentar argumentar
Que é de formação moral rígida e elevada
E de desenvolvida espiritualidade
Pessoa de altos e densos estudos,
Leituras e entendimentos,
O que lhe faz a  natureza mansa
Pacata, pacífica e amorosa,
O que o impede de reagir duramente
Ao sofrer uma agressão qualquer;
Que tem total aversão a briga
E que vai contra seus princípios
Sair-se aos socos e ponta-pés,
O que é uma grande falta de civilidade
E que sua conduta natural é se desviar
Aceitando conformado sua porrada
Ainda  que tenha sido sem razão;
Que esse tipo de gente ruim
É bem melhor desprezar;
Que muito desgosto sente em apanhar,
Mas que nenhum prazer sente em bater,
Bem como muito teme ser assassinado,
Mas sente tamanho horror em matar...
Esse raciocínio não lhe vai convir também
Para  atenuar-lhe a infâmia,
E pode até levar-lhe à suspeição
De ser alguém excessivamente delicado 

Talvez até sentisse um chegado amigo
Menos acanhamento em tal desagrado relatar
que após ter  sofrido o aviltante ataque,
Seguindo um tão espinhoso mandamento,
Ofertou ao carrasco serenamente a outra face.
Isso até pode  remeter-lhe a uma condição santificada
Além de gerar um  surpreendente impacto no amigo ouvinte,
Boquiabertamente espantado em  constatar
Que  realmente tem quem faça isso,
Se é que vai acreditar também...
Porém ainda assim é difícil que tal amigo isso confesse
Pois ainda que se sinta grandioso e tão certo,
A despeito de que seja mirado com curiosidade,
e ainda que goze de alguma plena compensação por isso,
Deve nos mais dos casos ser deduzido
Como um  grandioso e perfeitíssimo imbecil

E disso tudo entende-se então o porque
O nosso Fernando, pessoa tão célebre,
Nunca conheceu quem houvesse levado porrada;
Pois quem haveria de tal  desprazer  confessar.

Porém melhor mesmo é que  tal desdita
Ao amigo então não se diga,
Se também não há razão maior para dizer,
Quanto mais se no íntimo se vive em paz
E  não resiste  na alma nenhuma sequela
Das porradas que em determinados momento levou;
Nenhum trauma ou sofrimento, marra ou ressentimento;
Nenhuma depressão, incômodo ou cara amarrada;
Nenhum problema de relacionamento com as pessoas;
Nenhum rancoroso ódio, nenhuma corrosiva tristeza;
Se se vive íntegro e  de bem com a vida;
Se ainda lida bem com o mundo;
Se continua a amar a vida, a natureza, ao universo;
Pois já chorou seu soluçantes e restauradores prantos
E trás o coração aliviado, a alma leve;
Se uma compreensão maior em si se fez:
Que embates são da natureza humana,
Onde residem antipatias e preconceitos,
Que geram ódio, que faz inimigos,
E daí não se tolera jeitos, tipos, gestos, palavras,
E daí, com ou sem razão
O sangue esquenta, a mão dispara
Numa explosão irada,
Impulso natural do animal humano:
Atingir o outro numa agressão.
E nós, seres humanos que somos,
Inseridos neste viver assim,
A tais intempéries estamos sujeitos,
Ainda mais por nossos próprios impulsos,
De desejos, de ambições de poder,  de ser,
Fazendo por onde merecer desmerecimentos.
Se tal compreensão lhe fez agigantado,
Tão que as porradas da vida nos embates
Tornaram-se coisas pequenas , desprezíveis;
Algo já esquecido na  memória
Que adversidades  não se fizeram a aniquilar seu ideal
Que saiu-se  muito bem do grande embate;
Ainda mais se hoje é uma pessoa  transformada pela compreensão,
Cuja vida mais de bom lhe tem trazido;
Se  alcançou uma  condição superior;
Se vive felicidade paradisíaca;
Se vive o melhor da vida
Se  se fez bem maior pra si
Se continua  a ser tocada a vida
em frente no eu intento;
Se a dor e a tristeza foram suprimidas;
Se não lhe parece mais a Terra
Um lugar inóspito de se viver  
Como lhe pareceu nos momentos de terror;
De maldades, de injustiças, de vilezas
Em que foi no mundo vitima.
Se uma compreensão maior se fez
Para poder aceitar as porradas levadas
Como punição para seus  erro também,
Pois também já agiu com maldade e vilania
Já aviltou, já agrediu, já feriu também,
E assim se sente até redimido, resignado
Ante as dolentes agressões sofridas
E já perdoa o mundo , os algozes 
E não deseja mais a vingança,
De ferir, de matar...
Se desvaneceu-se do espírito bélico;
Se fez-se página virada as porradas que levou,
Ainda que tenha sido na cara
murro, tapa,  bofete ou qualquer outro objeto
Que assim lhe tenha ido;
Ou tenha sido no corpo cacetadas,
Soco na boca do estômago;
Tapão no tórax, chute na cabeça, pedrada
Ou qualquer outra agressão que tenha sido...
Se fez tudo esquecido, entendido, perdoado...
É melhor não confessar ao amigo.
Pra que disso falar?
Melhor é se calar.
Pra que falar?
E são por razões como esta
Que o nosso grande Fernando nunca conheceu
Quem tivesse levado porrada.






Poema notícia de última hora

Vive o Egito
o maior agito:
o povo com furor
desafia seu ditador.






Brilho


A vida é um mistério insondável.
Não existe explicação que se comprove.
A fé até pode aquietar a curiosidade,
mas não resolve a intrincada questão.
Não há convencimento consensual.
A razão da existência é impenetrável.
Mesmo que existam extraterrestres,
não deverão ter explicações do segredo.
Podem ser seres ultra-avançados,
que já chegaram onde só chegaríamos
com mais milhões de anos em progresso;
mas é para eles ainda o mesmo mistério,
do início, de quando, como, porque
tudo isso se fez assim.
Mesmo se após morrermos
continuemos em outra forma de existência,
ainda assim possivelmente não se responda.
Seremos apenas seres em animação,
mas sem saber de si e do mais,
essas capitais indagações.
A nossa ignorância total
certamente é eterna.
Porém o mistério 
preserva de tudo a graça,
a maravilha,
o  encanto, 
o brilho. 











AQUELA GRANDE HISTÓRIA DE AMOR

Era tanto “eu estou apaixonado por você”
Tanto “eu te amo”
Tanto “eu te quero”
Tanto “eu preciso de você”

Uma vez, angustiado
Uma vez, desesperado
Uma vez, aflito
Implorou-lhe “nunca me deixe”
Era o medo de perdê-la
E em seu colo assim chorou
Numa tão patética cena

Mas foi enfim condenado
A viver sem aquele amor...

Ficou enfeitiçado.

A magia daquele seu mundo
De amor sumiu
Acabou por fazer-se
Só em si




CICLO DE MISÉRIA

Jone nasceu numa favela da cidade
Que ficava próxima a um aterro sanitário
Onde o lixo tantos disputavam
Entre os urubus que ali habitavam

Na favela não tinha saneamento
Era esgoto a céu aberto
Tanta criança ali adoecia, morria
Mas Jone sobrevivia

Um dia seu pai alcoolizado
Matou sua mãe a facadas
E foi pagar pena na detenção
Deixando Jone só no mundão

Jone partiu para entre os prédios
Sobreviver na megalópole
Sob marquises dormindo
Dos sopões assistenciais se nutrindo

Era mais um morador de rua
Se virando na reciclagem
Cachaça e drogas eram suas diversões
Entre bordoadas da polícia e prisões

Jone encontrou sua excluída
Foi fundo e fez um filho
Então voltou para a mesma favela
E foi ali morar com ela





BRINQUEDOS


Papai e mamãe brigam
Discutem acaloradamente
Assustando os pequenos
Papai quebra mobílias
Mamãe chora seu desespero

Papai e mamãe vão pra cama
Dormem junto no escuro
Enquanto sonham os pequenos
Mamãe traz mais um bebê
Que beleza de irmãozinho

Papai e mamãe seguem na deles
E os pequenos brincam seus brinquedos


SERIAMENTE

Correndo mais e mais
Tão seriamente
Para seu desejo
Lúdico realizar

Vai contra tudo
Contra todos
Vai se debatendo
Se ferindo

Que é mais fácil
Eliminar-se a si
Do que ao que
Lhe é dentro:

O sonho.






CONVERGÊNCIA


Salve salve salvação !
Duma redoma de perdição
Encontrei a libertação

Palavras de gratidão
Se vão deste coração
Nas notas desta canção

Mal estar no mundão
Não mais, nem aflição

Abrigo de amor
Fim duma dor

Uma procura chega ao fim
Vem você a mim

Não tem como eu me enganar
Nem de você duvidar

Me toco sempre mais a perceber
Minha vida só converge pra você

Não tem mais solidão
Não tem mais ilusão

Palavras de gratidão
Se vão deste coração
Nas notas desta canção





NA LÁPIDE DE ZÉ MOLEQUE


Seguiu numa vida desregrada
Que foi assim adotada
Por percalços do amor e quereres
Que lhe trouxeram dores e prazeres

Levou a vida em irônica alegria
Tinha lá suas razões de contentamento
Apesar dos aborrecimentos
Das aversões d certos dias

Tinha também lá se bem-querer
Ao qual devotava suas atenções
Que era em versos e canções dizer
Do mundo as suas impressões

Já ia longe nesse viver
Vendo já a morte a lhe acenar
No cansaço que já sente ter
Pelos sinais no corpo a lhe enviar

Já nada mais esperava da vida
Mas da morte o que desse e viesse
Farras e companheiros eram sua lida
Até quando o tempo assim o quisesse

Em sua lápide hoje se lê a mensagem
De suas palavras a resumir sua passagem
“valeu ter conhecido desventuras e graças
Ter mergulhado em copos e fumaças

Pois foi assim que intensamente vivi
E até que a morte m trouxesse aqui
Muito amei, muito viajei, muito curti
Muito beijei, muito gozei, muito sorri


ROLANDO

Rolar
É um verbo novo
Que já ta rolando




O SONHO DE SONHADOR


De José Manoel Sonhador
chegou o tempo de sonhar o amor.
Sonhou, caiu da cama;
pirou, deu com a alma na lama.
Na solidão incontida dos incompreendidos,
no querer absurdo dos insaciáveis,
na condição inexplicável do incompreensível,
no sentimento reprimido do represado,
no saber contido do incomunicável,
mas na conjuntura astral
em movimento, e com o de consigo relacionado,
uma estrela lhe veio descerrar
a estrada longuíssima de se atravessar.
A estrada na palma da mão,
a estrada do que era então,
a estrada da liberdade,
a estrada de sair ao mundo,
a estrada que já se fazia no caminho,
de ser a sequência a se seguir,
a estrada pela qual já se fazia animar
numa alegria de poder trilhá-la;
a estrada pela qual se iria a bater as asas,
após o envolto de uma prisão.
Seria fazer o passado abandonado;
um recomeço da vida em normal;
Seria como confraternizar com a vida,
pelo que havia se mostrado
em recursos vitais e precisos
para ausentar-lhe dos entraves,
dos males em que se houvera Sonhador
se emaranhado na sua avidez de sonho.
Tem uma parte de romaria a pé
até o Cristo Redentor,
como demonstração de apego
tinha relevância em seu coração;
talvez houvesse alcançado uma graça
quem sabe houvera alcançado uma graça
pela qual deveria dar testemunho.
Tinha também sacramentado
um desafio aceito, prometido e a ser cumprido
em sua mente sem retorno.
E no mais era apenas fazer
o que se tinha mesmo a fazer...
E como se fazia necssário
a paz e o silêncio do deserto
para se reencontrar em seus pensamentos,
depois de toda uma infernação
que em agonia os puseram;
também devia fugir da redoma da cidade,
que lhe acuava e fazia-lhe diminuído,
e cuja língua do povo azucrinante mata um
vinda também a atroadora azoação,
com sonoros motores , buzinas, sirenes...
E era tempo de por em prática a força
que lhe veio do cosmos
quando sua alma atolada se entregava
à mais suprema derrota da miserenta desgraça.
Era a estrada no fim de tudo busca da ventura.
A ventura do próprio sonho em si;
a resplandecência do seu ser estrelado no ar.
Não imaginava o que viria por ela a encontrar.
E encontrou outras estradas pelas quais atravessou;
e andou e lidou ainda mais;
e ainda foi mais sofrimento encontrar.
E após mais tanto foi que tanto encontrou
mais do que sempre esperaria,
mais do que tinha como tudo a encontrar,
mais do que tudo encontrou , muito mais.
E foram onde seus olhos foram dar:
num iluminado, mágico e luzidio sorriso;
puro encanto, sem fantasia !
Mistério dos mistérios a se desvendar...
Fez Sonhador se situar no universo;
no seu planeta, no seu lugar, na sua...
No seu sonho a se fazer assim,
com o amor verdadeiro,
pelo que sonhou,
pelo que amou,
pelo que seguiu.





SACRIFÍCIO


Despertou-me estranho sentimento;
incompreensão, enternecimento:
num despacho, numa encruzilhada,
aquela ave, tão bela, sacrificada.

Entre charutos e garrafa de cachaça.
Por que tal coisa há quem faça ?
O que justifica tal fim ?
Uma vida ser ceifada assim...

Inocentemente viveu;
o céu azul, maravilhoso,
a natureza bem lhe deu.

Primitiva crença a matou.
Talvez com um intuito ardiloso,
seu sublime vôo encerrou.





SONETO VERDE


É um conturbado momento,
até transtorna o pensamento,
pelas coisas tão erradas
pelo homem patrocinadas.

Será a demais inteligência
levando-nos à degenerescência ?
Progredindo mais assim,
logo chegaremos ao fim.

A natureza nos é vital,
mas o homem, tão engenhoso,
lhe está fazendo fatal.

Urge que se encontre solução,
que se reverta o efeito danoso,
que nos livre da maldição.







ILUMINAÇÃO

Risca um cometa o firmamento do céu distante.
Pontinho que brilha em sua órbita circulante.
Enquanto cá na Terra se anunciam novidades:
Boas novas, ruins novas sustentam a humanidade.

Discos voadores se mostram sorrateiros.
São para alguém ancestrais mensageiros,
que compreende então não estar sozinho,
e que faz-se uma missão seu viver, seu caminho.

Cai uma estrela na sonhadora mente.
Coisa mais comum em sua função:
dá-lhe a lucidez de agir na intuição.

Enfim se lhe revela o Cristo, sorridente,
dando-lha a certeza nessa rara aparição
de que acompanha-lhe constante iluminação.






NO PILÉQUE


no auge de um piléque
resolvi publicar rascunhos:
incertas e confusas palavras
de temas quaisquer

foi pra brincar de blog
ou ansiedade de dizer

mesmo assim
no meu peléque
ficaram tão coerentes
numa perfeita harmonia

deixe-os então
até quando
um momento
de sobriedade talvez
os resgate

deixe-os aqui
tão certinhos
no piléque






AFIRMAÇÃO DO (IN)CONSISTENTE


DESDE
QUE
NÃO
MUDANÇA,
NEM À VISTA,
NEM PROVÁVEL,
QUE SEJA
ENTÃO
COMO É

E ASSIM
QUE IDÉIAS
VERSOS
POR ENQUANTO
OU PRA SEMPRE
EM NADA
EM TUDO
EM ALGO
ASSIM
ESTÃO
AQUI





BEM MAIOR


Pra que chorar, sofrer, morrer
Por ter sido abandonado
Por alguém a quem ama?

A vida é bem maior;
O amor é bem melhor;
O tempo é mais e mais...

Há de conter-se no desespero,
Resignar-se na frustração,
Não dar-se por inferior;

Reconstruir o castelo desmoronado,
Reacender o futuro apagado,
Redirecionar a trilha entortada;

Tirar lição da decepção;
Do que passou e sofreu.
O desencanto, a insônia, a perturbação...

Valorizar-se no desejo...
No sentimento obsessivo de querer...
Não parar de acreditar.

Aprender as regras do jogo
No perde-e-ganha da vida
No sobe-e-desce da roda gigante.

Amar-se de todo jeito,
Tocar os planos pra frente;
Ser minimalista naturalmente...





SONETO FILOSOFAL


Eu diviso o mundo do infinito,
Antes e depois do tempo de mim.
Milhões de seres consomem a sina.
Vitimadas que são pelo fim.

Meu pensamento fervilha nas mentes
De todos aqueles que são e existem.
Vivo assim seus mais íntimos conflitos,
Sofrendo também a drama que vivem.

Consumindo a existência, dose letal,
Fustigo minha carne, alivio a dor
E resgato toda culpa do mal.

Meu mundo começou quando a vertigem
Iniciou em meus tempos remotos
A longa viagem à minha origem.






FALANDO DE AMOR


Viver o amor
Que existe,
Alimenta
Impulsiona,
Bem faz sonhar.
É uma busca
Que se torna em luta
Por conservar,
Apesar dos pesares,
A crença em seu valor.
Pois o amor encontra contendas,
Desafetos,
Desafios,
Incompreensões.
Mas é ele quem nos ajuda
A vencer as tormentas.

O amor é luz,
Sabedoria plena;
Dissipa dúvidas,
Ilumina o mundo,
Embeleza a vida
De quem por ele vive;

O amor é a verdade
Da vida,
De Deus;
A alma no olhar,
As batidas do coração.
É a emoção mais sublime
Que pode experimentar um ser
Nos faz sempre crescer;
A entender tudo isso.
E mais,
E mais,
E mais...
E mais...

Mantendo-nos no amor
Vencemos o mal que for






O SEGREDO DA VITÓRIA


É ter fé e acreditar
No bem que tem a realizar.
Com o universo há de ter sintonia:
----------------------------------------
E , assim, dos inerentes tropeços
Haverá sempre um recomeço.
Pois nada o fará desanimar,
Mas sempre mais tentar;
Nada o fará desistir,
Mas sempre mais insistir
Nada o fará se entregar,
Mas sempre mais lutar;
Nada o fará cansar,
Mas sempre mais se revigorar;
Nada o fará um desesperado,
Mas sempre mais tranquilizado;
Nada o fará se matar,
Mas sempre mais se afirmar.

Há de guiar-se pelo coração,
Da mesma forma que pela razão;
Há de seguir a intuição,
Como também a inspiração
Há de guiar-se pela consciência,
Mas sem desprezo à ciência.
A arte haverá de de ajudar,
Bem como santos, anjos, fadas, orixás...
Tudo em que crê poderá auxiliar:
Pé de coelho , ferradura, amuleto, patuá.
Pois o importante é o pensamento positivo,
E ser da mais pura intenção a seu motivo.
Os astros poderão bem influenciar,
A natureza poderá bem interceptar.

Certamente que haverá de sofrer,
Coisas ruins haverão de acontecer;
Certamente haverá de apanhar,
Certamente haverá de chorar.
Mas com tudo haverá de aprender,
E repetidos erros não cometer.
Haverá de muito caminhar,
De todos os meios buscar.
Fazer o que melhor puder,
Por em pratica o que melhor souber.

Há de muito estudar,
Há de muito trabalhar,
Muito aprender ;
Muito fazer.

Mas é também nem tanto querer ,
Que a vida é pra viver.
É também com a derrota não se importar:

Não era do próprio destino vingar.

O segredo da vitória é sonhar ;
É amar...












E FEZ-SE UM NOVO TEMPO


Era um tempo de poluição
Fez-se o tempo do ar puro

Era um tempo de venenos
Fez-se o tempo de antídotos

Era um tempo de escravidão
Fez-se o tempo da autonomia

Era um tempo de doença
Fez-se o tempo da saúde

Era um tempo de promessas
Fez-se o tempo de cumprimentos

Era um tempo de sofrimento
Fez-se o tempo do bem estar

Era um tempo de autodestruição
Fez-se o tempo do zelo

Era um tempo negativo
Fez-se o tempo positivo

Era um tempo de fraqueza
Fez-se o tempo da força

Era um tempo de chorar
Fez-se o tempo de cantar

Era um tempo de prisão
Fez-se o tempo da liberdade

Era um tempo de ignorância
Fez-se o tempo do saber

Era um tempo de ansia
Fez-se um tempo de serenidade

Era um tempo de delírios
Fez-se o tempo de lucidez

Era um tempo de temor
Fez-se o tempo do destemor

Era um tempo de tolhimento
Fez-se o tempo da expressão

Era um tempo de peso
Fez-se um tempo de leveza

Era um tempo de morrer
Fez-se o tempo de viver






PELA FELICIDADE


Na corrida contra a morte
É melhor frear
E aceitar a vida,
Toda ela,
Como ela é.

A questão de ter fé
Implica em que tudo
Há de ser harmonia
No universo
Pela natureza

O importante é conservar a mente sã,
Consciente nos grandes problemas
Polítcos, socais, espirituais, econômicos...
Na luta da realização, da estabildade,
Da feliciade e da paz,

E cultivando na razão
O amor mais pofundo e natural,
Acrediando ser possível o sonho
De realizar
Tudo o que seja pelo bem de todos
E felcidade geral da humanidade





VERSOS E RIMAS


Qual palavra melhor para rimar com natureza
Do que beleza?
É assim como rima o dia
Com o sol que irradia
E rima a lua
Com a amada nua;
Rima bem coração
Com paixão,
Versos
Com universo,
Como o mar
Com navegar
E fé
Com andar a pé.
Difícil conceber que sangria
Vá rimar com alegria,
Do modo como Jesus
Rima com morrer na cruz,
Tanto quanto rima Deus
Com de quem tudo se deu.
Também rima com ateu,
E com não sei eu,
Como inferno
Rima com eterno
E inocência
Com demência.
Rima também mal
Com animal,
E rima perdão
Com oração.
Deveras rima amor
Com dor
E rima guerra
Com o tanto quanto se erra,
Da mesma forma que vento
Rima também com tormento,
Tortura
Com loucura,
Noite
Com açoites,
Cachaça
Com desgraça...
Também rima mistério
Com tudo quanto é sério,
E medo
Com segredo,
Como rima vida
Com lida.
Difícil conceber que rime morte
Com sorte.
É preferível rimar morte
Com ser forte
E sorte
Com estrela do norte.
Rima graça
Com um bem que em si se faça
E rima esperança
Com tudo que por ela se alcança.
Com o dom de alguém
Rima o bem,
Do mesmo modo que rima paraíso
Com um certo sorriso.
Rima sonho
Com o do que disponho;
Rima sexo
Também com nexo,
Como beijo
Com desejo.
Mas também rima estrela
Com o poder de tê-la,
Como arte
Tem algo de marte,
Poesia
Tem algo de fantasia;
Viola
Com algo que consola,
Música
Com o que eu use cá,
Saudade
Com um sentimento que invade
E paz
Com amor demais.
E tanto mais
Que não acaba mais
As tantas rimas
Irmãs ou primas.







PARA  ESCREVER UM SONETO


Para se escrever sonetos,
Que embora alguns achem obsoleto,
Tem alto valor estético,
Sublime estilo poético.

Há de dizer em dois quartetos
E em dois tercetos
A idéia para o qual motivado
E desta forma condensado.

Pode-se metrificar ou rimar
Ou não, se se quer modernizar
Contanto que se mantenha fiel

Que tenha poesia é o principal,
No sentimento algo de original,
E eis o soneto no papel.





PARA ESCREVER POEMAS


Para escrever poemas
É preciso amar as palavras
E ter gosto no trato com elas
Ser criativo e sensível

Ter bom senso estético
Técnica, estilo e arte
Para o melhor acabamento
Tal pedras lapidadas
Das mais brilhantes matizes
Na busca da perfeição
Na base do sentimento
Melhor que se tenha vivido uma história
Feito uma leitura do mundo
Saber de alguma coisa
Que lhe confira um ponto de vista,
Um discernimento,
Uma visão do mundo,
Um ponto de observação...

Há de obedecer
O clamor silencioso da consciência,
Manter acesa a chama do fogo necessário.

Há que acreditar
No que comunica,
Que os corações
Também conversam.







O DOM DA POESIA


Qual momento há melhor para o poeta
De que o momento de escrever seus versos,
Rimados,
Metrificados,
Ou não?
Pelo gosto de arte literária ,
Na busca de uma unidade,
Em seu hino ou oração,
Protesto ou veneração,
Explosão ou urro,
Resplandecência ou trovão,
Balizado por um senso estético,
Seduzindo a crítica , o povo;
Gregos, troianos;
Amigos e inimigos,
Matutando nas idéias,
A melhor explicação,
A melhor saída
Para os problemas pertinentes
Que cobram resolução.

Nem sempre esse momento se faz presente
Mesmo que o poeta o queira tanto ...
E a insatisfação então se faz mais acentuada.

Mas o poeta é também o homem comum :
Vai ao bar,
Se é de bar;
Bebe , fuma,
Droga-se,,
Se é de beber, de fumar, de drogar-se...
Notadamente
Se ainda não abraçou a poesia,
Como profissão de fé.
Ou não...
Discute futebol, política, religião...
Aprecia as meninas a passar...
Aprecia pessoas interessantes;
Vai a praia , joga futebol,
Ou outro jogo qualquer;
Visita amigos e parentes;
Vai ao parque ; ao jardim ; à praça;
Ou mesmo a beira de uma lagoa;
Lê livros , revistas, jornais ;
Vê televisão; ouve rádio...
Enfim, faz as coisas dos comuns;
Enfim, faz o que gosta...

Mas sua maior satisfação
Está em viver tal momento;
Liberando o desejo do coração
No imperativo de ser , fazer...
Fiel ao que se propôs,
E dentro de um tempo regular
Consumar sua obra,
Seu fruto que lhe cobra a vida;

Considerando as conturbações do mundo,
As paixões , os amores ;
As divergências, as ideologias ;
As religiões , os fanatismos;

Considerando a beleza da mulher.
Sua sedução à tentação
Da salvação, da perdição;
Sua irrecusável atração;

Considerando as dores do mundo,
As razões do coração;
A guerra; a paz;
A alegria ; a tristeza;
Considerando a natureza;
Grandes almas; anjos;
Sábias palavras;
Parábolas sagradas.

Mas considerando também o seu sentimento,
Seu discernimento,
Seu romantismo,
Sua expressão,
Escreve em movimento contínuo ,
Reconstruindo o mundo,
Em linha reta,
Passo a passo , verso a verso,

No seu lar tem o universo
Como uma companheira conquistada;
A obra já concebida
Qual um filho gerado;

Ao som de música ou ao silêncio.
À parede ou à janela,
Concatena as idéias que minam
Do centro do seu pensamento;

Parece armar quebra - cabeças
Recompor a alma estilhaçada...
É a plena satisfação, sem dúvida.
Onde faz uso de sua experiência.

Nesse momento, sente-se qual no céu
Fazendo o certo e o bom,
Ainda que não seja acolhido;
Ainda que não seja compreendido.

Não é obsessão viciosa,
Mania sem cura
Nem parar de viver.
É viver o hoje, o ontem e o amanhã.

A dúvida já não mais o abala,
Mesmo preso a certas situações,
Impotente ante à realidade maior...
E que seja algo tal como fuga...

Libertando-se do passado
Para no momento presente
Construir o futuro:
O que sempre tem sonhado.
E seja como é,
Todo ofício tem seus ossos.
Em tudo há sempre alguma dor,
E exige-se uma dose de sacrifício.

Mais há satisfação ainda assim:
O momento que existe de versejar.
Pelo dom da poesia,
Pelo amor da arte.

Como um patamar onde se expressa .
E iguais almas se coadunam
A poesia é o lugar próprio
Onde flui em ritmo suas emoções.

É momento divino e mágico
Que guarda o corpo num mistério:
Que Deus o ajudou
Na realização de um sonho,
De um desejo:
Ser um poeta amanhã.















PARA A HUMANIDADE


Andei numa boa
Sol bacana
Chuva boa
Na diretriz
Na minha

Sem maiores dores
Mas um ideal no ego
Fui na fé
Deu tudo bem
Elevei o astral

O definitivo amor
Me fez feliz

Me fez pra lá de esperança
Pra lá de milagre
Pra lá de qualquer desejo
Pra lá de qualquer lugar
Pra lá de qualquer coisa

Fez-me em blindada solidão
Não mais me abalam bombas
Não mais me incomodam bandeiras
Não mais me atemoriza o fim
Capricho no meu bem querer
Fez-me tanto mais humano
Fez-me para a humanidade






FREIO DE ARRUMAÇÃO


Dei um freio de arrumação,
Muitas vezes capotei,
Contra outros me choquei;
Parei em pé, em inversa direção.

Dei fim à nociva diversão,
Deu-me crises de abstenção,
Sobreveio toda a tristeza.
Daí irrompeu-se uma canção com beleza,
Num texto da mais sublime expressão.

Aos atos inconsequentes dei fim;
Aos prazeres baratos por fim;
Na alegria alienada enfim;
No fluxo do autodesprezo próprio

No cérebro não quero avaria,
Na alma manter a luz que alumia,
No corpo não quero a opressão,
Já vivi o necessário, irmão.
Já consegui o suficiente:
Memória de lembranças na mente,
No coração o velho sentimento de amor,
Matéria prima para o que for.

Do meu querer é hora;
Da minha razão é hora;
Do meu agir é hora.
Minha parte do sol
Quero só.

De qualquer jeito não quero;
Como quero é que quero;
Como sei que é é que quero:
Tudo o mais direito,
Tudo o mais perfeito,
Como me manda peito.







INCÔMODA SAUDADE


Incômoda saudade
Subsiste, resiste, insiste,
Após o corpo do desatino
Tomar consciência do delírio;
Atitude no desvairio
Para autocessar-se
E tenta aniquilar os fantasmas nas vozes;
Frear o fluxo do desejo
Em seus problemas.

Incômoda saudade.
Subsiste, resiste, insiste,
Onde glória e lama se fundem:
Amor e sacrifício se confundem;
E o devir se sustem,
E segue com todo apesar.

Incômoda saudade.
“É só sensação.”
“Só impressão".
Que as "zinas" aliviam
Mas não removem.

Na mente,
Como tela tridimensional
Ou num sonho tão real,
A serpente das trevas,
Acuada pelo fogo da luz,
Revolve-se;
Convulsiona-se;
Retorce-se;
Entorta-se;
Estica-se;
Incha-se;
Dilata-se;
A renegar-se de si.

Na mesma cena colorida
Uma estrela risca o firmamento
E se encrava num cérebro
Aliviando o peso,
A pressão,
A fustigação,
A opressão,
A sufocação,
A instigação
Que castiga
A quem já carrega
Um mundo nas costas.

Em total autoconcentração.
A mente luta pela transcendência.
Vencendo pura e altíssima tensão,
E reencontrando a serenidade natural.

Um cérebro em antiatrofiação,
Pelo raciocínio e compreensão,
Resulta-se em plena condição
De lançar-se em energia
Para fora do crânio.







MANTRA DO AMOR À VIDA


Amar a vida,
Ainda que dura lida

Amar a vida
Ainda que com ferida

Amar a vida
Ainda que dolorida

Amar a vida
Ainda que sofrida

Amar a vida
Ainda que com a despedida

Amar a vida
Ainda que sem comida

Amar a vida
Ainda que sem a pessoa querida

Amar a vida
Ainda que sem guarida

Amar a vida
Ainda que descabida

Amar a vida
Ainda que incompreendida

Amar a vida
Ainda que não garantida

Amar a vida
Ainda que com a emoção traída

Amar a vida
Ainda que com a ilusão perdida

Amar a vida
Será sempre a saída

Amar a vida
A fará só erguida

Amar a vida
A fará estrada florida

Amar a vida
Maravilha jamais conhecida

Amar a vida
Que nada a invalida

Amar a vida
Que a amá-la convida.






TUDO O QUE HÁ DE BOM


A vida é tudo que há de bom.

Seja com sol, chuva, ou mormaço;
No calor, no frio ou no frescor;
Na manhã , na tarde;
Na noite , na madrugada;
Na escuridão, na luz,
A vida é tudo o que há de bom

Seja na dureza do aço,
Ainda mais no conforto da espuma;
Mesmo sofrendo,
Ainda mais sendo feliz;
Mesmo doente,
Ainda melhor sendo sadio.
Mesmo sendo odiado,
Ainda mais sendo amado.

Em toda circunstância
Não esquecemos o bom que a vida encerra.

Quando sofremos
Buscamos reverter a condição
Para restaurar a felicidade;
Quando somos felizes
Preocupamo-nos em não perder
Este caro sentimento.

A vida é tudo que há de bom.

É como a felicidade,
Que todos buscam.
Seja para aqui ou para acolá da morte,
Pios , bem dito, não há bem que sempre dure
Nem mal que nunca se acabe.
Seja para qualquer raça,

Credo,
Animal;
Na paz ou na guerra,
No mar ou na terra,
No campo ou na cidade.
A vida é tudo o que há de bom.

A vida é tudo o que há de bom.

É como Deus.
Bem o disse Jesus.







A VIDA É BOA


A vida é boa. Assim é que bem me soa
O sol a iluminar
Toda beleza que há,
A natureza para contemplar,
O fogo para esquentar,
O ar para respirar,
A água para saciar,
A terra para pisar,
O mundo para vivenciar,
Tempo para passar,
Estrelas para apreciar,
Mistérios para desvendar,
Chuva para molhar,
Frutos para alimentar,
Sombra para descansar,
Sonhos para conquistar;
A beira do mar
Coração para amar,
Almas de admirar,
Sentimentos para moldar,
Lágrimas para desafogar,
Alegrias para extasiar.
Forças para lutar,
Sons para restaurar,
Pensamento para divagar,
Experiências a acumular,
Idéias a inspirar,
Esperanças para animar,
Lições a ensinar,
Escolhas para optar,
Liberdade para voar,
Ser criança para brincar,
Amigos para se dar,
Pernas para caminha,
Fé para acreditar:

Seu sorriso, seu olhar...
Paz e tranqüilidade,
Amor e felicidade







MERGULHO


Viver é estar na vida mergulhando
A tudo estar integrado
A vida é extensa e profunda
O mais se vive, o mais se vê
A vida é o centro do universo

Viver é fácil, só ser
Porém não é tão fácil viver
Mas há de se viver
Tudo sustém-se em equilíbrio
Tudo sustém-se em mistério

Entre ódios , amores,
Guerra, paz,
Lágrimas, risos,
Até a morte
Pela vida
Embatemo-nos a evoluir.






JOSÉ


Sobre José haviam profetizado
Que iria ser grande. Muito.

Que iria mudar o mundo
Denunciar as injustiças

Os poderosos temeram
tremeram

Envolveram-no com drogas
Ficou muito louco

Envolveram-no com uma meretriz
Em seus olhos também ardeu

Publicou seus pensamentos
Suas verdades

Falaram dele na Imprensa
Segredos, defeitos, erros

Falaram dele ao telefone
Telefone a telefone a telefone

Distorceram suas palavras
Não sabia se defender

Não tinha certeza do que dizia
Dizia como sentia

José foi viver mundo
Apurar o espírito

Foi até o Oriente
Depois todo o Ocidente

Encontrou nexo nas idéias
Fundamentos nos seus sentimentos

Mas não encontrou solução
Para os problemas do mundo

Como todos harmonizar
Em boa convivência?

Então convenceu-se
De que o mundo é assim mesmo

Que almas precisam sofrer
Para evoluir

Que outras vivem o bel prazer
Por merecer

Então resolveu pegar um baba
Tomar uma cerveja

Sem o fardo da paixão
Sem o peso do ideal

Sem mais consumição
Só pura diversão








UM SANTO PADRE


Jovem padre era.
De Jesus na espera

Bom anjo do Senhor,
Logo o mal o enredou.

Pelo diabo possuído ,
A pecados foi compelido.

Sofreu da igreja excomunhão.
Caiu em desgraça então.

Na vida caiu,
Pelo mundo saiu,

Conhecendo o viver mundano
Como um qualquer ser humano.

No seu juízo, como um réu,
Aceitava como um desígnio do Céu.

Via o que acontecia:
O diabo lhe submetia.

E contra o mal então lutava.
Deus bem assim o provava.

No íntimo conservava a fé,
Mais do que nunca até.

Meditou, orou, peregrinou...
Por muitas cidades passou.

Seguindo da Bíblia os mandamentos,
Foi tendo o próprio discernimento.

Muito estudou, trabalhou, jejuou
E assim do mal se purificou.

Também encontrou Jesus
Em sua presença de luz.


E o diabo foi assim subjugado.
Em seu poder amarrado.

Á sua terra voltou.
Tornando-se do Cristo um pregador

Com apaixonada eloquência.
Como de Abraão descendência.

Causava forte impressão.
Paravam,a dar-lhe atenção.

Diziam ser de Deus mensageiro,
Atestando o tempo derradeiro

Textos sagrados interpretava.
E assim a muitos a realidade clareava.

Outros achavam-no louco, fanático;
Falso profeta, lunático

E o seus mal-feitos de outrora espalhavam.
Muitos dele então desconfiavam.

Outros porém dele eram crentes.
Viam nele tudo muito coerente.

E no bojo do que pregava,
A sociedade em geral criticava.

E assim fazia com pessoas influentes
E com tantas poderosas gentes.

Certos dogmas da Igreja criticava
Pois justiça neles não encontrava.

Era progressista em seu pensamento:
Que devia a Igreja neste momento

Apoiar a causa popular;
por uma justa sociedade lutar;

E seus bens com o povo deva dividir
Também aos padres o casamento permitir

E agindo sempre mais assim,
Muitos lhe esperavam um triste fim.

E muitos lhe negavam comida;
Muitos lhe negavam guarida.

Outros não queriam ser envolvidos,
Com medo de serem perseguidos.

Mas perambulantes da madrugada
Ajudavam-no qual a um camarada.

Sem ter onde morar
A rua era seu lar.

Sob marquises dormia.
Mas serenidade nele se via.

E todos os dias de pé.
Ia disseminando sua fé.

Garantia ter plena satisfação
Em cumprir sua sublime missão.

Pregava por toda cidade,
Dizia-se porta-voz da verdade.

A imprensa uma vez o entrevistou
E suas idéias mais divulgou.

Ficou mais conhecido no mundo,
Revelando um saber profundo.

Barba e cabelos crescidos,
Sobre o roupão o crucifixo caído,

Dizia ser Cristo a verdade, a ciência;
Senhor absoluto de toda existência,

Enviado por Deus para a salvação
Dos bons da sua criação.

Que todos devem estar preparados
Que todos devem ser catequizados

Antes do retorno de Cristo,
A cumprir todo o previsto.

E assim ficou bastante velho,
Pregando sempre mais o evangelho.

Crendo ter convertido muita gente
O santo padre faleceu contente.

Dizem que foi para junto do Senhor;
Que tornou-se uma estrela de esplendor.








NADA SEI, MAS DESCONFIO


Nada sei. Mas desconfio de alguma coisa,
Se a verdade é contemporânea
Ao tempo em que se vive,
Porquanto a terra já foi quadrada
E o sol já girou em torno dela,
Etc. ,etc. ,etc. , e mais e tal...
Hoje a água também pode vir do espaço sideral,
Etc. ,etc. ,etc. , e mais e tal...
Não sei tudo,
Mas tenho certezas...
Que a verdade é parcial.
Pois sei que se vive,
Mas não sei o que será depois
Dizem isso... dizem aquilo.
Etc. ,etc. ,etc. , e coisa e tal...
E essa então é outra certeza:
De que há morte
Coma - se ou não do fruto

Nada sei, tenho certeza.
Sei de mim,
Do que vivo e tenho vivido
Assim minha cultura sou eu:
Trago a alma circunspecta no mistério,
Que vivendo, errando, morrendo, se aprende,
Desde que a meia informação
É pior do que a total desinformação;
No sentido de que vida é viver,
Morte é morrer...
Mas independentemente das interpretações
A vida segue em frente,
O enigma de sempre.

E em tudo se vê
Incomensurável poder,
O que inspira o nome de Deus,
Inventor o dono de tudo:
Da vida e da morte,
Embora ninguém prova sua existência
No que também não prova sua inexistência.
Contanto que quem nele crê
De nada deve reclamar,
Sendo tudo como Ele quer.
Ainda que pareça ter falhado,
Pois, sendo nós à sua imagem
e por ele criado,
Deveríamos ser perfeitos e bons.
O que não nega todavia sua existência:
Desde que errar é humano,
Errar é divino.
Ainda que sendo o todo poderoso;
Já devesse ter destruído Satanás ,
E posto um fim a tudo isso.
A menos que o deixe estar como um divisor de águas:
Assim saberá quem são os seus.
Já que não são todos.
No que é difícil encontrar sentido em tudo isso,
Assim como no inferno eterno,
Por mais hediondo que seja o pecado do pecador,
Não sendo responsável pela própria existência,
Pela própria imperfeição,
Fosse o pecador então anulado de ser ...
Ou quem sabe, o homem, sendo imperfeito,
criou como tal, um Deus imperfeito,
pelo que criou sua criatura imperfeita...
A menos que essa história vise a boa conduta,
Como as que assustam crianças,
Para conduzi-las no bom comportamento;
O tal do bicho papão ...!
Assim então dá pra entender,
E é até providente.
Desde que não leve pessoas a terríveis extremos,
Fanatismos.

Às vezes temos convicção em tudo que cremos,
Visto que outros povos inventaram outros deuses,
Com outros sistemas,
Outros tipos de diabos..
E defendem mortalmente sua fé...


Nada sei,
Mas desconfio,
Desde que pensar é um começar sem parar,
À medida em que as estrelas seriam douradas,
Fosse cada uma um sol.
O nada é uma parte oca , vácua , do todo;
Assim como todos somos do espaço,
Onde se situa o universo,
Infinito...
E podem ter os deuses ter vindo dos macacos,
Assim como o sorriso não vem dos dentes,
Conquanto a guerra pode ser boa,
Mas a paz sempre haverá de ser melhor,
Pois gigantes não se abatem com feridinhas.
E está tudo na paz de Hiroshima e Nagazaki :
Mas ninguém é maior ou menor:
Somos especificamente diferentes,
Mas humanamente iguais,
Mas uns valorizam –se mais do que outros.
Visto que, dentre outros, a capacidade de amar
Faz nossas diferenças e igualdades,
Na proporção em que quanto mais se ama
Mais se tem amor para dar,
Desde que essencialmente tem amor em si,
E gera sempre mais amor,
Sendo assim que Jesus
Se ocupou a morrer pelos pecados da humanidade,
Ainda que justamente por esta redenção
Ninguém tivesse mais de ser molestado,
Se bem que o amor jamais morrerá
E sempre salvará.
O amor não se resume ao um beijo.
Mas quem ama beija
Também o amor não se resume ao gesto de carinho.
Mas um gesto de carinho pode
Ter maldosas intenções,
Visto que, excetuando-se as exceções da regra,
Quem é beijado também beija ;
Quem é acariciado também acaricia,
Nesse mundo de sugestão e auto- sugestão...
Porém não faz diferença ser gato ou cachorro,
Pois o importante é ter asas,
Desde que ver Jesus é melhor do que não ver ninguém,
Conforme quanto mais se ama
Menos se esta só.

Portanto não se confunda homens de fé
Com fezes de homens ,
Assim como é dado aos profetas
O poder de pegarem cobras com a mão
Não significa que todos que peguem cobras
Sejam realmente profetas,
O que também o que é remédio pra uns ,
Seja veneno pra outros.
E visto que a diferença entre um e outro está na dose
Também o amor não se resume a esta coisa ruim
Como também não devemos cuspir nas estrelas,
Pelo que umas são tão tímidas que nem se mostram
E nada mais fazem de que brilhar.
Algumas muitas vemos a chorar:
Tanto amor... Tanto amor...
Mas quem amar será amado,
Pois quem ama, Deus ama,
Sendo que amar é simplesmente amar,
Porém a verdade dói menos,
A mentira dói mais,
Conforme o que se faz com amor dá certo,
Mas quem não tem a quem culpar culpa o vento.
Que na verdade é até bom.
O moinho é que é terrível,
Onde o que, a felicidade não existe,
Mas quem tem engenho a inventa,
Na medida em que o amor
É parte fundamental do engenho,
Consoante só quem ama é feliz.
Mas só o perdido pode encontrar a saída;
Pois pra ser salvo tem que estar perdido;
Pra ser, tem que não ter sido;
Pra levantar tem que estar caído;
Pra se fazer luz tem que estar escuro...
Não sei desconfio.
A maldade é uma ignorância,
Embora que pra quem é diabo o inferno é um paraíso;
Mas sentimentos em palavras se traduzem,
Como quem se mistura com aves voa,
Com peixes nada,
Etc. ,etc. ,etc. ,e mais e tal...
No entanto melhor amigo é o trabalho,
Pois que a gente não presta está visto e comprovado.
Mas nesse mundo que nos envolve de supetão
É melhor viver de cinismo
De que morrer de vergonha,
Ainda que quando viver não for bom,
Morrer não será ruim.
Conquanto nada como um dia pior do que o outro.
Mas enquanto sua vida não se mostra em sua face ruim
Seja como festa que em criança sonhada:
Muita bebida comida e prazer:
Música e dança
Até o dia de vir,
Ou muito mais,
Desde que a alegria nunca é demais,
E não faz mal,
Quanto mais que o que esqueci
À minha alma não concerne,
Apesar de rios de paixão
Virem dar no mar
Do meu coração
Nada sei.
Desconfio,
Pois mistério é o que sempre será mistério...

Nada sei.
Mas desconfio.





PENSANDO VELHO


Se velho um dia eu chegar a ser,
como tal, eu não quererei ser
rabugento, macambúzio, mal humorado,
resmungão, intransigente, mal amado.

Também como velho não quererei ser
implicante , intrigante, frustrado,
nem tão pouco também vou querer ser
pessimista, caduco, esclerosado.

Saberei até ser um velho solitário,
se viúvo, mas não caduco e gagá;
muito menos presunçoso e autoritário,
intolerante e prepotente no lidar.

Desejo morrer após ficar doente,
e se no meu enterro vai ter muita gente,
se terei homenagens, se discursarão,
o que importará a esse defunto então.

Mas antes bons prazeres quero curtir,
de petiscos deliciosos me servir,
célebres músicas clássicas escutar,
finos charutos e vinhos degustar.

Dos meus anos de velhice quero deixar
as melhores impressões de se lembrar.
a todos, aos meus e aos chegados,
e a tantos a que se lhe fizerem relatados.

Não quero filhos por herança a brigar,
se eu vier a ter bens de valor a deixar,
mas que bem destinem, no meu descanso,
meus móveis e minha cadeira de balanço;

mas gostaria que guardassem como seus
as músicas, os filmes e os livros meus,
e se não quiserem minhas roupas e sapatos,
de que os deem aos carentes eu fico grato.

quanto ao meu álbum de fotografias,
que fique esquecido eu não queria,
mas que de vez em quando fosse revisitado,
sendo motivo para um bom proseado.

De missa do sétimo dia não faço questão.
Mas que seja mais um dia, se encomendada,
de reencontros e confraternização;
de abraços, risos e mãos apertadas.

Meus filhos, desejo-lhes que fiquem bem,
e que tenham assim um bom futuro,
com toda qualidade de vida também;
com almas, corações e pensamentos puros.

e a todos que me estimam enfim,
quero que quando lembrarem de mim,
não o façam com tristeza porque morri,
mas com alegria porque vivi.







GRITOS


Gritos que em brados se irrompem garganta afora
qual rompantes de pânico de quem em certa hora
passa debater-se abafado num breu infernal.

São gritos carregados da resistência da força vital
de seres que se sustém num infortúnio transfigurados;
de vidas numa angústia que em si se acha contida;

de quem por um inesperado turbilhão arrastado,
agoniza no olho de um furacão em que se emaranha,
na aflição insustentável que em si se faz recolhida.

Gritos de um mal estar que em tais vidas se entranha,
como uma maldição que a vida em seu viço danifica ,
e cujo pesar sem fim faz a alma ainda mais torturada.

Gritos em brados por uma penosa ruína que de si fica;
pela plena consciência de uma irreversível derrocada,
a se desprenderem desde a essência arrasada,

e que trazem consigo a evidência do indício deste mal;
da agrura incomunicável da intrínseca realidade em apuro;
dos seres sufocados em furiosa repulsa no escuro.

Gritos do desespero de um malogro fatal,
que nestes seres descompostos se estende eternal,
a fustigar seu viver afundados numa depressão.

Gritos de espíritos atormentados em confusão,
no vendaval tremendo que se fez a desordenar;
de um mal da mais densa tristeza a lhes cobrirem.

Gritos duns seres mortificados a se consumirem
num sofrimento que dói, ainda que só em pensar
em malfeito tal que os fizeram tão subjugados.

Gritos de um pesadelo que constante se gera
do que seria um sonho de venturas consumado;
de um desgosto ardente que tais seres altera.

Gritos vindos em ira de peitos dilacerados
em que corações abatidos em sinistra loucura;
que não se descansam acumulados de desmesuras.





DO HOMEM, DA TERRA , DA DIVINDADE


I

Sobressaindo-se em seus instintos inferiores,
promove o homem funestos horrores,
culminando com o descalabro da guerra,
que nos derrama o sangue ma terra;
a rivalidade gerada da ambição
promove sua própria destruição;
é o cúmulo do disparate:
o homem destrói o próprio habitat;
na cobiça do capital,
é qual insano animal;
na cegueira da ganância,
é capaz das mais vis meliâncias,
tornando conflituosa a convivência,
de transgressões e degenerescências,
numa embalada decadente,
gerando as mais enfermas mentes,
acentuando o mal estar coletivo,
priorizando baixos impulsos primitivos,
fomentando ódio ao semelhante,
em atos os mais revoltantes,
em feitos os mais escabrosos,
dignos do mais insidiosos,
corroendo a humana sociedade,
que se faz assim relevante na desigualdade,
o que mais proporciona a desarmonia,
aguçando a já manifesta agonia
dos tantos quantos são então relegados.
E assim segue o mundo desequilibrado
se ressaltando seu que de indecente,
em que se projeta a horda de indigentes
a se definharem nas garras de fome,
da dura desnutrição que os consome;
o que os fazem vítimas fáceis da exploração,
da marginalização, da escravidão,
acentuando-lhes a condição de oprimidos
desses tantos e pobres desvalidos,
que já não mais cabem em seus sofrimentos,
que se resignam em seus doloridos lamentos,
quando não vão muitos ao desespero,
cometendo os mais danosos destemperos,
pelo que age o homem barbaramente,
fazendo de outros degradadas gentes,
piores do que muitos animais,
que da vida desfrutam bem mais...
E pensam mesmo serem pior seus destinos
do que o de tais felinos, tais caninos...
E as discrepâncias se passam como normais,
e vão produzindo efeitos os mais fatais;
e mais e mais se rareia o amor,
e nesta proporção aumenta a dor.

II

A Terra,
por atos humanos,
consome-se em danos;

o homem erra,
gerando calamidades,
causando infelicidade;

é tempo de valer a inteligência,
priorizando a natureza,
evitando tais torpezas.

Para nos garantir a sobrevivência,
é assim, urgente conservá-la,
para sempre bem desfrutá-la;

é tempo de se usarmos a sapiência
para sairmos da má circunstância
que nos ameaça nesta instância;

é tempo de sermos prudentes,
para evitar a fatalidade
que se delineia na realidade;

é tempo de ser racional,
agindo da forma mais certa,
atentando aos sinais de alerta.

Não é o homem um simples animal,
e deverá com a sua sabedoria
contornar-se do mal que se prenuncia.

III

Vindo o homem da divindade,
deveria seu coração ser só bondade,
realizar apenas boas ações,
e não cometer tantas aberrações;
deveria ser são em seu juízo,
sem causar-se danosos prejuízos;
devia ser fraterno de verdade,
repleto de solidariedade;
seria assim um ser pacífico,
de feitos os mais magníficos;
seria ele um ser só do bem,
e do mal não seria ninguém;
seria o homem um ser direito,
a fazer tudo o mais perfeito;
seria um ser maravilhoso,
tão puro tenro e amoroso.







UM ASPECTO ESTILÍSTICO PRÓPRIO


O fato
de não ter eu
vencido
não me impede
de exaltar
aos vencedores;

o fato
de não ter eu
conseguido tornar-me
o que sonhei
não me impede de venerar
os que assim
se tornaram;

eu quis voar;
eu quis brilhar;

mas talvez
me tenha faltado
a inteligência,
a necessária competência,
ou a tal sorte
quem sabe,
mais determinação,
mais firmeza,
mais gana;
quem sabe mesmo
me tenha faltado
um certo ódio
que me fizesse
mais constante
no empenho
de uma vingançazinha
pessoal;
mais amor
e menos vício
pode ser que seja
o que tenha
faltado;
ou quem sabe mais consciência,
obediência,
coerência.
disciplina,
entrega
no sentido
do dever
tenha faltado;
faltou talvez
mais coragem;

mas o certo
é que perdi;
não ganhei;
não me tornei;
o que sonhei:
não vôo,
não brilho,
como tentei;

mas não se apequena
meu coração,
e exalta
a quem voa,
a quem brilha,
em versos de fã,
de admirador,
ainda que neste mundo
de egoísmos e cultos
à própria personalidade
possa eu ser acusado
de pernóstico,
presunçoso;
ou até alienado,
esquizofrênico total;
que tudo tem seus riscos.
Ainda que versos muitos
a mim próprio,
à minha existência
se relacionem,
em tantos outros,
com imenso prazer,
exalto a quem voa,
exalto a quem brilha,
como eu brilharia,
como eu voaria.

Mas arte é dubiedade;
mas mais certo seria
me acusarem
de idolatria,
do que eu menos ligaria,
pois que todo o poder
de voar,
de brilhar,
vem do céu, eu sei;
e não todo brilho,
e não todo vôo,
exalto;
mas aqueles
que transluzem
a grande alma.

E se um dia,
por um algo
que se processe
em mim
em transformação,
faça-se em mim
asas a voar,
luz a brilhar,
como eu penso
voar e brilhar,
será justo que mereça também
tais versos de exaltação.






LICENÇA POÉTICA


...contudo,
aqui,
numa coisa
ou outra
posso
de repente
me tocar,
tendo em mim
que não é
bem isso
ou aquilo;
que não é
bem assim
ou assado,
e alterar...

ou até mesmo
por algo
que se me pinte
de melhor
a aperfeiçoar,
a dar um grau;
ou ainda por algo
a acrescentar;
além de retificar.







CHEGUEI À LUZ


Que a estrada
a nada
vai os passos
dar,
não posso
por mim
assim dizer:

cheguei a mim,
do velho senso
natural de ser,
que já não
o tinha;

cheguei onde
minha paz
se fez
com sorrisos
plenos duma felicidade
que nunca saberia
de outra forma
existir;

cheguei à serenidade
da mais elevada
espiritualidade,
sem mais a ânsia
a me pungir num desejo
desesperador;

e tudo porque
cheguei à luz,
que me acolhe
e se me mostra
a se contemplar
em tantos cantos
estelares.












NEGRO BELO


Negro Belo tem asas para voar,
coração para amar;
amor maior do que sua dor,
orgulho na sua cor;
consciência da sua história;
do passado de lutas e glórias.

Negro Belo luta como os bons ancestrais,
por seus nobres ideais;
pelo bem de seus descendentes.
Negro Belo é inteligente:
sabe do seu povo a fundamentada cultura,
e que lhe faz distinta criatura.

Negro belo faz com que sua semente víngue;
tem raça, alegria, graça, ginga, suingue;
sabe que seu cabelo duro é natural;
Negro Belo é universal;
libertou-se de cativeiros,
implodiu navios negreiros;

Negro Belo defende-se do preconceito racial,
não se rende à vida marginal;
luta pelos seus direitos;
e entende-se perfeito,
sabendo-se à imagem de Deus;
tem fé e coragem pelos seus,
vive sua negritude,
na coerente atitude;
tem filosofia de verdade;
é irmandade, propaga felicidade.

Negro Belo traz na memória de si
o que seu povo passou por aqui;
sabe bem o que é,
e é íntegro no que é;
é ser humano igual,
da diversidade natural;
oriundo de uma raça
que tem distinta graça,
Negro belo é grande gente,
soberano e consciente,
Vivendo com qualidade
toda paz e liberdade,
toda aquela possível
na sua vida de alto nível.
Para Negro Belo a discriminação
soa ainda como aquela agressão
que sofreram tristemente no passado
seus ascendentes, seus antepassados;
é a mesma desconsideração humilhante
que sofreu seu povo antes;
é ainda o chicote a zunir,
que lhe bate na pele a ferir,
lhe vitimando de forma brutal,
a ignorância do preconceito racial;
é como daqueles algozes o espancamento
que arrancou do seu povo tristes lamentos,
nas correntes da subjugação,
da barbaridade da escravidão;
e quem traz o negro assim maltratado
dificilmente pode ser perdoado.
Mas Negro Belo encarou com destemor,
nunca se dando jamais por inferior;
negro Belo inventou golpes de capoeira,
e derrubou seus algozes na rasteira.
Negro Belo acorreu ao seu sagrado terreiro,
onde se fortaleceu por inteiro,
e com a proteção dos seus sagrados orixás,
Negro Belo bem foi se achar,
e foi se mostrar para o mundo ver
toda a grandeza que tem um negro ser.
E Negro Belo destrói a marretadas
as idéias da civilização desalmada;
aquelas idéias dos racistas, sem amor,
querendo lhe fazer pessoa sem valor.
Brada eloquente Negro Belo sem parar,
pressionando para transformar,
determinado na positiva afirmação,
reluzindo a compreensão,
despertando as consciências,
com sua fundamentada ciência,
relutando contra todos aqueles do mal,
que lhe querem um segregado social;
e se afirmou contra o racismo,
correndo pra dentro com brilhantismo.
Negro Belo ensina que sua saída é lutar
pra bem resistir, bem resolver, alcançar
um sonho, um objetivo, uma realização;
e mostra-se como exemplo a todo irmão,
que assim desperta que também pode ser;
que também pode realizar seu querer.
Negro Belo ensina que direitos iguais
são direitos humanos, capitais, essenciais;
Negro Belo é um ícone da sua nação,
e a faz elevar-se em distinção;
e conquista para seu heróico povo
a planície de um mundo novo,
nesse novo tempo que descortina desde agora,
para seguir seguramente pelos séculos afora.






AO BÊBADO APAIXONADO


Sinto pelo bêbado apaixonado
que seu pranto tem chorado
por causa de alguém que partiu
depois que muito, muito o traiu;

compreendo-o em sua aflição,
pois entregou seu coração,
e agora sente imensa dor
porque de nada valeu o seu amor;

comovo-me em sabê-lo angustiado,
vivendo seu eterno sofrimento,
consolando-se com tristes lamentos;

solidarizo-me ao sabê-lo condenado
aos tristes males deste mundo
na infeliz sina de vagabundo.







CHUVA DE AVIÕES


De repente uns caras,
muitos loucos,
inventam aviões destruindo prédios,
matando-se
E aos outros,
vertendo lágrimas, consternações
e alegrias exaltadas,
assustando meio mundo,
fazendo-nos os corações apreensivos.

Será por religião? Por terras? Por capital ?
Por questões mais profundas ?
Por questão mais superficiais ?
Quem explica?
A guerra e um tanto quanto misteriosa.
Parece congênita da humanidade.

De onde vem o ódio? E o amor?
De onde viemos? Quem somos?

A ignorância de nós mesmos
faz-se em tudo tão pior,
quando pela nossa própria estupidez
a luz não se faz presente
e então não nos iluminamos,
sem ver
que a vida é viver,
e só assim crer,
sem se importar com tudo,
sem se importar com nada.

Fico agora imaginando
aviões destruindo Torre Eiffel,
Big-Bang,
Torre de Pizza,
Estátua da Liberdade,
Cristo Redentor,
igrejas,
mesquitas,
templos,
escolas,
lares,
bancos,
bares,
cinemas,
hotéis,
boates,
Etc.

Chuva de aviões...



N.A. Esse texto foi composto em novembro de 2001, ainda sob o espanto do acontecimento.






A JESUS POR TODODS NÓS


Divino Jesus, que por amor à humanidade,
sofreu e morreu na cruz da nossa maldade,
tendo então a vontade de Deus realizado,
ao enviar-Te para nos resgatar dos pecados,
e que cumpriste com glória Sua missão,
tornando-te no mundo A Salvação.
Não És deveras um comum mortal,
mas em tudo o ser mais especial.
E quem sou para negar-Lhe todo o poder,
E duvidar de todos os mistérios a Te envolver?

És O Salvador há muito profetizado;
foste pelo Espirito Santo gerado;
três reis magos levaram presentes a Ti,
por Sua estrela que viram no céu a luzir;
És O Caminho , A Verdade e A Vida;
Através de Ti se tem do Pai a guarida;
Ao céu Tu Te tens elevado;
Da morte Tu Te tens ressuscitado;
No juízo final em poder retornarás ;
Os mortos e os vivos na consumação julgará.

És o próprio Deus encarnado;
são tantos os milagres realizados...
Tendo acalmado a tempestade,
a natureza curvou-se à Tua vontade;
sobre as águas do oceano andastes;
quarenta dias e quarenta noites jejuastes ;
doze apóstolos conquistastes convincentes;
Ressuscitastes um morto, curastes doentes;
água em vinho transformastes;
pães e peixes multiplicastes.

Não és o melhor entre os seus simplesmente,
ou um ser de alma genial , apenasmente;
não És mais um profeta maior que surgiu,
ou tão somente o espírito que mais evoluiu ;
És da humanidade dedicado pastor;
das ovelhas desgarradas O Resgatador;
coração do amor mais belo e mais profundo;
da mais intensa e singela paixão no mundo.
Quem tão árdua missão e sacrifício teria assumido,
não fosse o próprio Deus na terra nascido?

Nova ordem do mundo, És a luz;
do amor, o nosso mártir na cruz;
a boa nova, o sal da Terra;
em que todo sofrimento se encerra ;
o rei dos reis, que o viver ensina;
fonte de água viva, límpida, cristalina;
alegria dos homens; o verdadeiro amor;
vencedor do mal; o Ser Superior ;
és toda a esperança, O Acalanto;
O Pai, O Filho, O Espírito Santo.

Merecedor das mais altas reverências;
mestre das virtudes, a melhor influência;
És o homem , o modelo de homem perfeito;
És o maior , de tão grandiosos feitos.
Tantos são os seus santos virtuosos;
pelos seus exemplos tão maravilhosos.
Filho do homem , incrível lição de vida;
o mais generoso amor, dos perdidos a saída;
filho de Deus unigênito e querido,
portal do paraíso eterno nesse mundo desvalido.


A Ti me reporto na sua forma concebida:
és o pão do céu, que alimenta a vida;
o alívio dos que vivem a sofrer;
salvação dos que buscam Seu venerável Ser;
libertador das almas aprisionadas,
pelas palavras da sabedoria de Deus iluminadas;
os que as seguem tornam-se bem aventurados;
e quantos atestam terem sido por Ti beneficiados?
E nestes pobres versos que a Ti devoto com amor,
pede-Lhe por todos nós, este humilde pecador,

que intercedei por nós em Seu milagrosos poder.
Por todos que todo e qualquer mal estejamos a sofrer,
dai-nos e aumentai-nos a fé salvadora,
para que nos voltemos a Ti nas horas desesperadoras,
e em Ti toda a confiança depositemos
para que cruciais problemas solucionemos;
seja por nós em difíceis momentos;
ajudando-nos a vencer os mais terríveis tormentos;
e tantos quantos que são vítimas das iniqüidades;
dai- nos força para enfrentar as adversidades;

aos que vivem no submundo de crueldade;
no vício, na prostituição, na marginalidade;
aos que dentro das prisões tem sofrido;
por quaisquer crimes cometidos,
aliviando-lhe pelo Seu amor o sofrimento;
daí–lhes sincero e benéfico arrependimento;
põe em seus corações dignidade e força moral;
torna-lhes virtuosos a não cometer mais o mal;
purificai-lhes para que recomecem do bem;
mostrai-lhes o caminho de uma vida nova também;

os corações dos malfeitores tocai;
no puro amor, na bondade lhes inspirai;
aos que tramam o mal alheio; aos ardilosos;
aos embrutecidos, violentos, impiedosos;
aos que a guerra, a discórdia, a intriga fomentam;
aos que na desgraça alheia se deleitam;
judiadores, escarnecedores do alheio sofrimento;
aqueles movidos por mesquinhos sentimentos;
aos invejosos, hipócritas, fraldadores, mentirosos...
Tornai-lhes no viver singelos , bondosos.

Também aos que sofrem pelos próprios pecados,
o peso na consciência pelos males praticados,
aliviai-lhes livrando-os dos remorsos que têm;
e aos que penam por mágoa também,
e erram cegos em seus desejos de vingança,
abrandai-lhes no perdão; daí- lhes temperança;
e àqueles que por um mundo melhor lutam,
daí- lhes iluminação e força no que labutam;
fazei com que sejam venturosos;
que nos seus objetivos sejam vitoriosos.

Tocai os corações dos poderosos; dos ricos;
também dos importantes líderes políticos;
na promoção do bem comum os conscientizai;
bondade de coração e senso de justiça lhes daí ;
dai- lhes simplicidade de alma , clemência;
tirai deles a arrogância , a prepotência ;
a insensibilidade, a presunção, a tirania;
humanizai-os para que tenhamos melhores dias;
acendei-lhes nos corações a luz do amor,
para que tenhamos vida sem tanta dor.

Ajudai aos injuriados, caluniados e desamados;
aos que amargam abandono, maltrato; aos odiados,
aos desiludidos, aflitos, infelizes, sem alento;
aos que penam a esmo, ao desabrigo, no relento;
aos mendigos, indigentes, desvalidos, necessitados;
aos míseráveis, no frio, de pão e água privados;
aos que sofrem o fardo de difíceis atribulações;
aos cansados, fatigados, angustiados corações;
aos fracassados, frustrados, vendo-se em derrota,
daí- lhes esperança e ânimo, seja-lhes a porta;

aos assim projetados a uma solidão de dar dó,
fazei-lhes ver que quem tem a Ti não está só;
que não há derrota onde há Seu nome de glória,
e que só Contigo há a mais bela e mais plena vitória;
Contigo, por Ti, em Ti é o segredo de bem vencer;
numa nova luz a cada manhã fazei-lhes crer;
para prosseguir na vida fazei-lhes renovados.
Aos abatidos, doentes incuráveis e desenganados;
aos que agonizam no leito da morte iminente,
tende deles misericórdia, fazei-os consolados,crentes;

pois o Senhor mesmo da morte sobreviveu,
e falou-nos de um mundo bom, que é reino Seu.
E aos sonhadores, lunáticos, loucos, alucinados;
aos obstinados, em fantasias e quimeras obcecados;
aos alienados, enfeitiçados, possuídos;
aos desajuizados, desorientados e perdidos;
aos rebelados, aos paranóicos,aos neuróticos;
aos que surtam em pânico, aos psicóticos
aos que sofrem de ira, escândalo, insurreição;
aos revoltados desesperados, suicidas da aflição;

aos condenados a uma sombria escuridão,
seja-lhes a luz no fim do túnel, daí- lhes a razão;
libertai-os dos grilhões da ilusão doentia;
enchei-lhes as almas dos mais claros dias ;
tornai-os na fé em ti, tranqüilidade e paz lhes daí;
o bom senso e a lucidez lhes restaurai;
a sã consciência e o discernimento da realidade;
trás- lhes de volta a boa tranqüilidade.
Tu que pregaste os mais belos sermões,
e convertestes os mais duros corações,

ajudai aos seduzidos pelos seu Ser de luz;
aos que abraçam a fé em Ti, Ó Jesus!
E nos corações têm seus mandamentos sacramentados;
e por seus ensinamentos se têm pautado;
e que buscando a Ti, a todos e a tudo desafiam;
pagam promessas, peregrinam, se penitenciam...
Sejai - lhes o oásis no cáustico deserto.
Fazei- lhes comprovar que pela fé estão certos.
Daí- lhes o mais puro sorriso de aprovação,
espírito da sacrificada Ave de Deus; libertação!

Também aos iludidos pelos enganadores,
falsos profetas, cordeiros e pastores,
que usam do Livro Sagrado para tirar –lhes bens,
aproveitando-se do sofrimento e ignorância que têm;
distorcem Sua palavra e no pecado são conduzidos;
não crêem em Ti e não são convertidos;
não vêem no semelhante um irmão,
E guardam um mau sentimento no coração;
fundam falsas religiões e igrejas...
Pelos enganados, Jesus, também seja,


pois o que vale é a fé, principalmente.
Aclarai de enganados e enganadores as mentes.
E àqueles que conservam duros os corações,
em aceitá-lo como o Senhor de todas as soluções,
fazei que dispam-se das soberbas, daí- lhes a luz
Da plena compreensão e salvação, Jesus;
para que em oração busque-lhes o auxílio, Senhor.
Também aos que sofrem por paixão, por amor,
reforçai-os na crença de que maior valor não tem;
foi pelo que destes sangue e vida... Amém.






A SELEÇÃO BRASILEIRA E A NOSSA REALIDADE


A seleção brasileira
já foi já eliminada da Copa.
Voltamos mais cedo
à nossa realidade
dos excluídos,
dos sem-terra,
dos sem-teto,
dos catadores de lixo,
dos necessitados,
dos desassistidos;
das favelas e invasões,
das comunidades sem saneamento,
das encostas soterradoras,
dos meninos de rua,
à mercê da delinqüência,
a conviverem no vício e no crime;
que também já não se convocam
craques da nossa ginga, do nosso drible,
da nossa malícia, da nossa catimba,
mas sim os durões enrijecidos
da Europa, europeizados,
ainda que estejam lá
nos bancos de reservas.


A seleção brasileira
já não levanta o caneco nesta Copa.
Voltamos mais cedo
à nossa realidade
da violência generalizada,
da marginalidade incessante,
das balas pedidas,
das rebeliões nas cadeias,
em superlotados presídios;
dos presuntos
a amanhecerem desovados;
que também já não há
amor à camisa
nem corações nas chuteiras,
mas sim saltos altos
nas vitrines das fortunas.

A seleção brasileira
não vai ainda ser hexa.
Voltamos mais cedo
à nossa realidade
das greves dos trabalhadores
Insatisfeitos,
da Segurança insegura,
da Educação deficiente,
da Saúde doente,
das filas imensas e torturantes,
da distribuição de renda indecente,
dos salários deficientes,
minguados ainda mais pela agiotagem
de financeiras vampirescas
e juros criminosos,
dos impostos e taxas aviltantes,
dos políticos corruptos,
da impunidade,
que também não se valoriza
mais a criatividade dos gênios
a jogarem livres no gramado,
presos que estão
a rígidos esquemas táticos,
que lhes sabotam a inteligência
e fazem a torcida sem vibração.






CORAÇÕES EM CHAMAS


Um algo sinistro
que baby traz
em si oculto,
que o trava,
o cala fundo,
o faz desconcertado;

um algo misto de loucura
de louca transa,
com a qual não se dá
baby, tendo sido aventureiro
de díspares emoções;

um algo de ato pesaroso
praticado em correspondência
de auto-sugestionamento
a algo assim lhe feito
no buraco da maldade
do seu gênio pirraçado
para germinar-lhe
o tal maléfico;

um algo de desgosto,
que é tanto mais
do que o que faz sofrer
um coração adoecido
que chora repentinamente,
escandalosamente,
arrependidamente,
pelo leite derramado,
pelo ser partido,
desintegrado;
um algo que é ensejo
de bem maio sofrimento,
e que, oprimido, baby
traz em si lacrado;

um algo ato repugnante,
que para, sereno, baby abarcar,
se perdoar,
se aceitar,
a se compreender como vítima
dum ardil da natureza humana inferior,
como vítima
da ignorância dos maldosos,
só se fazendo grande como o universo
o seu latente amor;

um algo indecoroso
que faz difícil a baby
se aquietar com a língua nos dentes,
preservando-os em integridade
pelo acatamento, pelo respeito;

um algo dolente
que faz baby todo mais em ânsia
de acertar o passo
no caminho até onde vai se entregar
a este mundo
que assim o toma arrebatadamente;

um algo ultrajante que baby arrasa,
que o desígnio do mal tem em si,
que lhe marca a língua,
que lhe consome a mente,
que lhe acaba o mundo
num apocalipse em si;

um algo de abissal,
e que só bem o sabe quem nele cai,
e que outros bem possam imaginar
por, vivendo, passarem perto
e outros ainda
por passarinhos que lhe contem;

um algo funesto
que enluta baby num luto de si,
que faz tristonho baby,
que eu amo como brilhantes,
como cometas, estrelas,
luas, sóis, planetas,
como amores,
que os fazem corações em chamas,
um beijo encerra.







DA MORTE VEM


Da morte vem
tenebroso medo,
lágrimas doloridas
de tristes saudades;

da morte vem
reflexões meditativas,
a mais séria sisudez,
conjecturas do sobrenatural,
na metafísica,
com suas almas,
seus espíritos,
seus fantasmas;

da morte vem religiões,
com suas esperanças
de justiça divina,
com seus infernos,
seus paraísos;
com suas esperanças
de mais vida enfim...

Da morte vem
o que chama fantasiosas
as outras crenças:
a incredulidade,
com seu fim,
seu nada.






SIMBIOSE


São extra-terrestres o sol,
a lua,
os planetas,
as constelações...

São terrestres o carneiro,
o touro,
o homem,
o siri,
o leão,
a mulher,
a balança,
o escorpião,
o centauro,
o bode,
o aguadouro,
os peixes,
o rato,
o boi,
o tigre,
o coelho,
o dragão,
a serpente,
o cavalo,
o macaco,
o galo,
o cachorro,
o porco.

Mas não há mais mistérios
entre o céu e a terra
como supõe
a nossa simbiótica astrologia.







O QUE SOU


O que sou,
do que vivi
sou;
do que tenho vivido
sou,
pois o que a vida me traz,
o que a vida me tem trazido,
concorre para ser
o que sou,
um ser a viver
o que tornou-se a ser,
num caminho não escolhido,
da decisão não tomada
de forma serena,
pensada...
Sou um ser
que segue assim a viver
o não planejado,
o que me fez tornado
a vida
que me coube.

E como sou
deverei sempre ser.

Pelas experiências
do que vivi,
do que tenho vivido
sou formado.
Elas me fundamentam
as emoções disso tudo;
forjam-me a alma,
o espírito,
a mente,
a psique,
a personalidade,
ou que nome se dê
ao que dentro em nós
seja aquele abstrato
em que se impregna
as acumuladas impressões
que fazem um ser
o que é.







COMO É BOM ESTAR AQUI


Que bom é estar aqui.
Se pudesse não partiria;
mas eu não tenho querer...
O azul daqui me faz feliz,
com este sol que resplandece os dias,
tão lindos que por aqui fazem.

Mas quem sabe ao partir
me integrarei a esse azul,
ou mesmo ao sol?

Como é bom estar aqui...
Estas densas e verdes matas
dançam balançando ao vento,
que as faz em alegre movimento,
como se a natureza em festa,
a envolver meu coração.

Mas quem sabe ao partir
me integrarei a este vento,
deslizando no espaço,
levado por suas ondas.

Se pudesse não partiria,
mas não tenho querer...
Mas, pra onde partirei?
E será que há mesmo partir?
E será que haverá ainda ir?
Ou será apenas encerrar?
Só sei que tudo aqui deixarei...
E como é bom estar aqui,
apesar de tudo não poder entender,
apesar de nada poder explicar.

Sei que deixarei minha cidade,
das mais caras saudades sentidas,
de bons momentos vividos,
e que jamais serão esquecidos...
Mas será que partindo,
me integrarei à minha cidade
definitivamente?
Pois creio que é bem mais partir
do que encerrar,
pois se não me enganou a visão,
vi seres do lado de lá,
vi o amor do lado de lá;
e assim lá o devo encontrar,
pois que deve a muitos esperar...
É, ao amor devo me integrar
numa irmanação espiritual,
etérea, eterna...
É, ao amor devo me integrar

Assim, partirei...
Eu não tenho querer...
Partirei de qualquer forma,
ainda que não queira.
Que não adianta mesmo
não querer.

Mas como é bom estar aqui,
e aqui viver as experiências
do que aqui se pode viver,
e num balanço aprová-las,
ainda que por pouco, aprová-las...

Tivesse querer não iria,
e para sempre aqui ficaria,
se possível fosse aqui se perpetuar...

Como é bom estar aqui...
Ainda que sejam dias cinzentos,
legal é ainda estar aqui;
também caindo a bela chuva,
em paisagem mais que sensacional.

Mas partirei, sim, partirei,
pois eu não tenho querer...
Mas como é bom estar aqui,
das noites esplêndidas de luar,
das estrelas a pulsar quais brilhantes,
neste céu límpido acrílico e neon...

Como é bom estar aqui,
mas partirei...
Eu não tenho querer...
Mas quem sabe me integrarei
às estrelas e ao luar...

Mas como é bom estar aqui...
Mesmo naquelas noites
da mais densa escuridão,
é ainda bom estar aqui...
Se tivesse querer não partiria...

Ou será me integrarei à plena escuridão?

Mas como é bom estar aqui,
das gentes de mentes iluminadas...
Bem sei o bem que são,
E levam-me a amar muito mais estar aqui.
Mas eu não tenho querer,
terei de partir...

Ou me integrarei a essa gente,
que também não tem querer,
e partiram e partem pro lado de lá.
Se existe partir, se existe lá,
Se não for encerrar.

Mas como é bom estar aqui...






SENTIMENTO


Tenho paz e amor;
tenho muito o que fazer,
e em tudo o que fazer,
tenho um fim,
na minha arte poética,
a qual não tomo como menos séria
do que tantas outras coisas
importantes em minha vida;
estou de bem com a vida,
sobrevivendo no mundo,
fazendo sobreviver meu mundo,
que já teve pelo fim.
sou um velho jovem,
trazendo em si
a criança crescida,
e coerente com minhas idades,
mesmo com tiques e manias,
acordo com os sóis,
num plano superior,
vivendo meu natural,
seguindo bem
na caminhada da estrada
por onde me iniciei,
alcançando um plano superior,
indo para além dos limites
da comum imaginação;
vivo um futuro que se almeja,
sonho lindo que se faz real,
tendo me elevado do plano inferior,
tendo superado traumas
e sofrimentos do passado,
tendo me curado do machucado,
me refeito do que me tem abalado,
tendo esquecido dos desafetos,
tendo conciliado as frustrações,
tendo me compreendido,
me aceitado,
me perdoado,
tendo deixado o ruim pra trás,
tendo me conformado
com o que me foi reservado,
muito mais do que nada,
não tão menos do que tudo;
com os aprendizados
que me ensinaram meus erros
e tudo o mais que aprontei,
que tudo foi o que tinha mesmo de ser
quando a minha vida se fez um jogo,
tendo passado o forte vento,
com o qual não pude
em suas anarquias humilhantes,
quando queria ter
o que não podia conseguir,
quando acreditava que conquistaria
sentimento e poder de me manter
em sintonia imediata com as mentes
e os corações sedentos,
a saciá-los;
o destino assim quis,
com vigorosas forças negativas,
ver-me em más circunstâncias envolvido,
a querer fazer-me a vida ruim e feia,
como a muita gente faz,
mas eu caí pra dentro de cabeça,
para acabar ou me acabar,
para interromper,
fosse castigo de Deus
ou ardil do Diabo;
agora é a suave brisa
a me acariciar o rosto, o corpo;
tenho muito mais
do que talvez tenha merecido,
pois brinquei com labaredas
bem mais do que me chamusquei;
tenho pão, tenho vinho,
e a liberdade necessária;
tenho cantos de amor
em doces melodias,
exemplos de fé e conquista;
tenho esses tempos memoráveis
de remotas memórias;
tenho a vida em beleza
de altíssima qualidade;
o sorriso da alegria;
a felicidade verdadeira
no coração agigantado
e em bem estar.
Pelo menos nesse momento
aqui e agora
assim sinto.












A NOITE DAS MURIÇOCAS


Esquálidos viajantes do escuro
antecipam-se ao meu sono no leito,
buscando no meu corpo em apuro
o sangue do qual estão afeitos;

Seus lamentos a zumbir em meus ouvidos,
agoniando minha consciência,
me faz todo enraivecido
a execrar tal existência;

a dor da epiderme perfurada
faz em ódio meu pensamento,
que as mata numa vingançazinha;

as macilentas criaturas esmagadas,
entre o sangue que lhes foi alimento,
fazem deprimidas as mãos minhas.






A VERDADE


Enquanto Pilatos esperava
a resposta do que perguntara,
Cristo em si retrucava:
“Eu! Eu sou a verdade!”

Mas Cristo silenciava,
pois tudo o que pregara
pelo mundo já ressoava;
chegara já a todos a verdade.

Sua missão terminava;
o novo mundo que revelava
trevas no mundo dissipava.
Nascera já a luz da verdade.

Enquanto Pilatos se indignava,
indiferente, suas nãos lavava,
esperando a ver no que dava.
E Cristo se fez de fato a verdade.













ENE COISAS


O ser,
o não ser;
o querer,
a recusa;
a vitória,
o fracasso;
o si,
o mundo;
o tudo,
o nada;
o morrer,
o viver;
o sentir,
o pensar,
ene coisas
envolve.







LONGE


Um bichinho
subindo a parede,
começa de novo
quantas vezes caia;

um decaído,
teima em crer,
reinicia
sua escalada;

a alma implodida,
nada no mar bravio,
onde aprendeu a lida
quando se afogava;

com o bem algum,
mais íntegro em si,
divisando a verdade,
é todo impulsão;

já vai longe,
matando uma sede,
destilando sentimentos,
transando idéias...






TODO BRILHANTE, O IMORTAL


Todo Brilhante nasceu para o mundo,
e não mais morre;
como tantos outros imortais,
não morrerá jamais;
enquanto houver mundo
e nossa vida nele,
permanecerá na recordação
entre tudo o que existe,
enquanto que assim for;
Todo Brilhante é um imortal
enquanto que tudo permaneça
a seguir seu fluxo natural;
enquanto que assim for,
manter-se-á vivo na consciência
da inquieta humanidade,
pelo que emana de conhecimento,
pelo que a todos faz chegar
de forma arrebatadora;
pelo tanto que envolve,
que se faz tão presente,
a todo minúsculo momento,
desde seu habitado tempo,
a tempos avante;
pelas suas luminosas impressões
que se impõem poderosas;
pela sua intensa e influência,
que a uns faz de modo tal,
e a outros faz de modo qual,
mas a ninguém faz indiferente;
e os pensamentos em formação
devem infalivelmente pesá-lo em consideração
até que chegue-se ao seu termo próprio,
mais ainda se se houver havido em um contexto
por si vivido e ilustrado;
quer seja em seu contexto mais brando ou agudo,
pela sua irrecusável influência,
que faz a uns com comportamento tal,
que faz a outros com comportamento qual,
de forma que ainda age sobre o mundo,
pois que é vivo, vivo de verdade seu pensamento,
como alma imortal,
das que se sobrepõem à morte;
Todo Brilhante é um fenômeno
que se observa, se considera, se estuda,
e que não se cabe em um restrito conceito;
que não se cabe numa mais precisa determinação,
que se comparadas todas que já se estabeleceram,
chegam mesmo ao mais extremo dos controversos;
Todo Brilhante é um fenômeno que se observa,
como um cometa que passa,
como o universo seguindo em seu movimento,
como a vida que se presencia a fluir;
Todo Brilhante é um fenômeno que se observa,
que ainda que se evidencie todo um algo
do que o fundamenta por dentro,
ou de todo um algo que o elucide
pelo que lhe viera desde fora,
não se contempla consenso.
A mais de se ter tornado pelas suas atribuições
ou já ter vindo com suas propensões predeterminadas,
não fora nascido para um ser comum, não;
Todo Brilhante é uma alma imortal;
não das menores;
e como tal se posta em alto patamar;
e conquista discípulos, seguidores e até adoradores;
Todo brilhante é como arauto de um novo conhecimento,
pois trata de algo que verdadeiramente é,
e verdadeiramente só pode ser;
sua presença é algo colossal na vida,
e enquanto aqui existe vida
Todo Brilhante estará presente,
um fenômeno que se observa;
e no que emana, no que manifesta,
são interessantes e reveladoras asseverações.

Todo Brilhante é muito mais
do que um simples idealista,
um sonhador de deslumbradas visões;
Todo Brilhante relata em seus pensamentos
que em seus prenúncios de juventude
foi um obstinado, movido pela midiática vaidade
de aparecer a qualquer custo
nas revistas, nos jornais, na televisão,
sendo um sucesso cultuado;
e que nisso estava sua gana total,
o que lhe pulsava de mais contundente,
e que se resumia a todo seu interesse,
seu apego, seu afinco,
seu fim, pelo qual buscava qualquer meio,
pois era para si
todo o verdadeiro bem;
e muito então
dormia e acordava nisso,
e nisso seguia;
relata também que certo também era
que existia também uma coisa
de necessidade imediata de responder ao mundo,
por uma grande desonra que lhe houvera imposto;
e também a necessidade de mostrar valor
pelo que houvera se sentido, e muito,
tratado como menos que um bicho qualquer;
e que ainda que viesse a tornar-se apenas um mequetrefe
de aprendizados meros, mundanos,
a partir de grandes estupidezes realizadas
a tratar de coisas mesquinhas,
de atrapalhações e complicações pequenas,
ainda que sendo nisso de todo puro
e sincero no sentimento,
evidenciando apenas um mundinho no mundo,
mais um mundinho neste mundo,
estava disposto a assim ser;
mas a vida fez muito mais de Todo Brilhante,
e assim ele não se trata de apenas
de alguém que se faz desfilar o seu trenzinho
de sons, luzes e cores,
relevando sua história pessoal,
com o drama, a magia e a graça inerentes,
além do heroísmo nisso engastado;
não se faz apenas mais um
dentre tantos trenzinhos que se fazem desfilar,
vindos de tão longe e para tão longe indo;
Todo brilhante é muito mais
do que o trenzinho que se faz a desfilar,
pois vai mais nos trilhos do grande trem da História;
Todo Brilhante trás consigo a verdadeira luz;
Todo Brilhante é o trigo que se distingue do joio;
não se trata apenas de alguém que houvesse discernido
o tal mundo almejado como crível e real de se viver,
o qual lhe viria a ter
em verdadeira e plena satisfação,
e tal mundo então por si se fizera conquistado;
Todo Brilhante é muito mais;
muito mais do que mais um
personagem no circo da vida,
a infundir extasiantes sensações;
não se reduz mais especificamente
num algo de materialismo imediato,
banalmente mortal e efêmero;
Todo Brilhante tem em si alcançado
o essencial que repousa no abstrato;
mas do que se faz seu pensamento
não se restringe apenasmente a isso;
e em seu pensamento não trata
apenas de assuntozinhos mundanos por si só;
como coisas do almejar ganhar
tudo o que lhe havia de sonho,
e tudo o mais que dele pudesse advir,
e do ter perdido, e ainda do ter sabido perder,
como bom jogador,
com resignação e paciência, não,
Todo Brilhante é muito mais;
não trata apenas da consciência
que adquirira vivendo em função do querer, do desejo;
não trata apenas do fato de que
em função do seu intento
se fizera ido pelas veredas da ilusão,
crente de que era o caminho
para chegar ao seu desejo almejado
e que ilusão e desejo
se confundiram em seu sonho,
e tremendas adversidades
daí vieram decorrentes,
que mesmo com a cósmica magia
instalada no mais sereno momento,
apesar da imensa tragédia que se lhe instalara,
levaram-lhe à desilusão mais dolente,
e ao abandono mais angustiante,
passando pela paranóia mais plena,
pelo pânico mais assombroso,
e momentos torturantes o levaram
à desfiguração do seu tranqüilo semblante,
e das lágrimas que irromperam então desafogadoras,
restauradoras;
ou também da gana que lhe ainda sobrara,
fazendo-o desdobrado na resistência
para quebrar as correntes que o prendiam,
privando-o do alcance da liberdade irrestrita,
pra revolver imensas pedras do caminho
por onde haveria de seguir;
nem também se resume a falar
das suas longas estradas percorridas,
buscando a possível saída
à irrestrita liberdade,
para conquistar todo o perdido
e ganhar do seu sonho a realização;
nem apenas do mundão por onde se foi
perdido a se procurar,
longe de amigos, parentes e derentes,
largado na vida;
nem dos sonos apoiados pelo duro chão sob os céus,
ou sob marquises a lhe protegerem da chuva;
nem das vezes que fora valido,
nas filas dos indigentes;
nem da esperança que não se esvaía,
nem de como reencontrou a sua cabeça;
mas trata seu pensamento de muito mais além disso,
pois ele trás consigo a luz, a verdadeira luz;
Todo Brilhante é o trigo que se distingue do joio.
Não fala apenas do que lhe restou a se virar;
mas no que lhe restou a se virar,
tendo descoberto mais do que tanto,
vislumbrou o tanto de importância a se fazer,
com tudo o que aprendeu,
de tudo o que lhe aconteceu,
levando-o a saber o que não sabia;
conta a resposta que obtivera
de tudo o que procurara,
de tudo o que indagara.
Todo Brilhante em seu pensamento
não se resume apenas a uma estrela caída do céu
e que lhe fomentou seu plano estelar,
nem às tantas idéias da minam da sua mente
e que fundamentam a sua ideologia:
a maior paixão se fez a si compreender
tão profundamente a marcar-lhe firme na alma;
Todo Brilhante é dono de toda uma vivência
que lhe fizera passar o que passou
para conhecer o que conheceu;
para fazer-se revelada ao mundo
a grande verdade ainda.
Todo Brilhante é o mundo sem fim;
por isso não está preso à mesquinharia do mundo;
seu grandioso coração é cheio de satisfação,
não simplesmente de uma euforia delirante,
mas de um grande tesouro encontrado,
que lhe confere o maior grito de contentamento.
A grande paixão se fez a si compreender,
e esta é a razão de tanto ser nesta vida;
sua realidade passa ao largo
da solidão dos incompreendidos;
dos gritos aos peitos arrancados
nos cantos em desabafos;
de inerentes hermetismos
dos exotismos das artes,
explosões que são prontas reações
a um estado de coisas;
não vive a amarga indignação,
aquela que se converge a alguma desesperadora
procura de salvadora solução,
como um golpe de misericórdia
ou um lugar onde se precisa chegar,
seja terra, altar, preparação.
Todo Brilhante é também a paz desse lugar,
como é a paz da volta para casa em definitivo.
Todo Brilhante não é simplesmente a novidade
que se logrou enfim fazer-se
por tanto reiterar o recomeço
no seu plano pessoal de salvação,
aprendendo a manejar as peças do jogo;
não é apenas mais um facho de luz
entre as centenas que vêm do firmamento;
não é simplesmente um recomeço
que continua infindamente,
enquanto houver mundo,
e nossa vida nele,
no caminho que tomou,
seguindo na sua corrente a favor,
no seu mar de navegar,
no puro desejo tanto almejado,não;
Todo Brilhante é muito mais;
é o trigo que se distingue do joio;
pois trás a luz verdadeira.






A HISTÓRIA DE UMA EXISTÊNCIA


De um óvulo e um espermatozóide gerado,
era uma existência da humana natureza,
a viver a vida que lhe cabia viver.
Foi como uma criança comum:
numa família, nome e sobrenome;
teve berço, padrinho, madrinha;
um teto num bairro numa cidade do planeta;
da primeira escola e da banca,
as inestimáveis professorinhas,
a iniciar-lhe nas cartilhas das letras e dos algarismos
a precederem os livros e cálculos mais complicados;
também os ensinamentos morais e religiosos;
teve brinquedos e crianças com quem brincar;
velinhas de aniversários para apagar;
seus bons dias das crianças;
as fantasias de crianças,
desde bicho-papão a Papai Noel;
tantas brincadeiras brincou...
E crescendo assim foi-se entre outros entretenimentos:
gibis e desenhos na televisão.
E crescendo assim foi-se em sua escalada
de graduações de cursos e conquistas de certificados,
mas o que lhe valeria para sua sobrevivência,
aprender, aprender mesmo, só vivendo.
Vivendo foi que logrou vir a ter seu pensamento,
após superar as dúvidas, constatar verdades, adquirir certezas,
certezas sobre as quais baseou suas decisões vitais,
vivendo a história que ilustra um vertginoso declínio,
histórias de tantos males acontecidos;
tantos inesperados, fora das venturosas expectativas,
após as benesses da inocência pueril;
após a proteção segura do lar,da família, dos amiguinhos,
iniciou-se nas mais imprevisíveis intempéries;
sua vida revelou-se fadada às mais tremendas aventuras,
desde a querência do realizar seu gigantesco sonho
à busca desesperada de si,
pela loucura que o tentava tomar,
a instaurar-lhe um inferno,
a expô-lo à guerra quente,
a fazer-lhe sem rumo no caminho da vida.
E ao ermo do mundo levou-lhe o caminho da vida;
e foi-se assim caminhando o maltratado maltrapilho;
caminhando, caminhando, caminhando muito;
caminhando de dia, caminhando de noite,
andarilho guerreiro do desejo,
desejo de toda fome, desejo de toda sede.
E tantas foram as peripécias patrocinadas pelo desejo;
quão distante foi dentro em si,
quão distante foi mundo afora.
E no ermo do mundo se encontrou;
pois no ermo do mundo o bem encontrou,
e assim o fez se encontrar,
e envidar suas conquistas:
sua fala, sua vida na lucidez, no entendimento,
as rédeas do seu destino,
o alcance do domínio da sua história,
após ver-se num impensado enredo,
pois vira-se como frágil planta,
mas de bem fundas raízes,
e uma ventania batia-lhe forte,
e assim perdia suas folhas,
mas estas se renovavam sempre;
como sempre vinha a ventania outra vez,
mais a plantinha afundava suas raízes,
aguardando o tempo propício
de desenvolver-se plenamente.
A ventania representava os tantos obstáculos a serem vencidos,
como a planta representava sua fragilidade
e o desejo de crescer, crescer, crescer,
tornando-se enorme , forte, e de inumeráveis folhas,
a ser seguro abrigo de passarinhos,
e gerar seus frutos
para quem lograsse desfrutá-los;
e lançar extensa sua fresca e acolhedora sombra.

E como se dá tudo isso na vida de tal existência?
Bem, uma vida que segue seu fluxo normal.
Segue como seguem no fluxo normal as vidas,
a menos que algum fato significante altere a fluidez do seu fluxo,
como um rio que sendo alterado em sua rota,
segue por caminhos diferentes, desconhecidos, imprevisíveis.
Foi assim que a certa altura do seu fluxo
Vem-lhe o grande e devastador acidente de percurso,
de conseqüências nefastas e traumatizantes.
E assim foi recolher-se lá bem dentro, dentro de si.
E dentro de si repousava um sonho, poderoso sonho;
e o sonho com tudo despertou-lhe num crescente desejo,
que fez chegar-se à planície da imaginação,
que lhe fazia desejo e sonho maior e encarnado.
Mas ao invés de vir todo aquele céu sonhado,
veio a grande conturbação que sobre si se abateu;
e foi desencanto com o mundo em que vivia;
e foi desencanto com o seu amor;
e pelo tanto desencanto se rebelou;
e sobre si tempestuosas águas invocou,
advindas com a impiedosa ventania,
despertando-lhe a loucura a tentar-lhe,
a tomar-lhe.
E na planície da imaginação da qual cada vez mais se nutria
viu sendo-se arrebatado por um insaciável dragão
de afiadas garras cravadas em sua carne à alma
como a querer transformar-se em sua existência,
e contra o qual lutava aguerridamente;
e nesse embate ora quase aniquilava o dragão
ora o dragão quase o destruía;
e havia momentos de trégua também,
e a relação tornava-se estável, amena,
como amigos, cúmplices, simbióticos, até;
e eram atos responsáveis entre desregramentos,
momentos de sobriedade entre os de delírios,
e entre tais momentos como ter ao certo
como então estava
quando fez contatos imediatos,
quando chegaram-lhe almas de outro mundo,
quando viu tanto mais;
quando ouvia vozes daqui ou do além,
quando sentia seu corpo tocado por seres invisíveis;
quando viu Jesus lhe sorrir...

Mas de qualquer forma uma revolução
se processou em seu interior,
foi algo que lhe alcançou cósmico e mágico,
refletindo-se de dentro pra fora
em palavras coerentes
ao que era-lhe concernente;
fez-se assim mais forte no objetivo,
na vontade;
fez-se simples e suave...
De fato carregava uma fé otimizada,
e era grande sua fé,
qual vira em personagens das histórias dos livros e da televisão,
a que dilatava mais e mais sua esperança,
e até já se emanava numa alegria
na direção da real felicidade
que vislumbrava que já era possível alcançar;
acenava-lhe uma chance,
que a oportunidade lhe viria,
e que escapar não a deixaria.
Tanto que nem parecia estar aí
para o seu revés de momento,
vivendo tantos negativos,
mas seguindo assim só ocupado
em realizar seu ideal
e assim conquistar o ideal
que em sua mente se havia concretizado,
em seu tanto otimismo
de que tudo iria dar certo.
Mas no fundo, no fundo
estava também preparado para o pior,
outra frustração, outra decepção,
ainda que almejando o melhor,
pois já havia ganho o mundo,
não haveria mais desespero
por mais longe e difícil
que se fizesse o seu propósito,
porém nunca iria desistir.
Por si só tal lida já o satisfazia;
o desafio, o tinha como um privilégio,
um sentido pelo que viver.
Assim, nada o cansaria em definitivo,
mas andar,perseguir, correr, correr atrás, sempre,
no almejar.
Em suma, desde tudo que sabe, do que viveu,
vem tentando fazer o melhor,
tentando fazer até demais,
mais do que pode o mundo esperar de alguém,
de um ser assim,
conservado-se em bastante disposição, energia, alto astral,
dedicação e zelo à altura,
e suficiente responsabilidade,
usando deste seu aprendizado geral
para que seja alcançado o objetivo, o sonho,
sem esgotar todas as possibilidades;
e que fosse seu eu como o espermatozóide ainda,
que logrou desenvolver-se e vir à existência:
continuaria correndo, correndo,
como que para uma outra existência,
e que fosse como uma árvore,
como uma árvore...